15 dez, 2023 - 11:01 • Fátima Casanova
A Federação Nacional de Educação (FNE) denuncia o aumento do número de atos violentos ocorridos nos estabelecimentos de ensino e alerta para a tendência em esconder a sua divulgação por medo.
"Medo" e" receio" são palavras utilizadas pelo líder FNE, Pedro Barreiros, para ilustrar o ambiente que se vive nas escolas. O responsável junta a esta outra denúncia: a de que há casos escondidos.
"As escolas e os muros das escolas fazem com que não
passem para fora esses casos de indisciplina, muitos deles são efetivamente
escondidos”, garante Barreiros, enfatizando "Passados
praticamente 50 anos do 25 de Abril, há medo e receio."
O líder da FNE diz que recebe o relato de alguns casos, mas “sempre com o pedido: não digam nada, não me identifiquem nem digam sequer qual é a escola” o que o leva a dizer “que existe muita opacidade no que diz respeito a questões de violência, de ‘bullying’, de indisciplina, que tendem a ser ocultados, para que se passe a ideia de que a escola é um local seguro”.
Para Pedro Barreiros, a explicação para o aumento da indisciplina pode estar na falta de profissionais nas escolas, porque “o rácio dos trabalhadores não docentes ou de apoio educativo não dá resposta às necessidades".
"Os alunos não estão devidamente acompanhados dentro das escolas, nos mais diversos espaços", aponta o dirigente, avançando, por outro lado, que os professores “sentem também que, devido a heterogeneidade de alunos e àquilo que tem vindo a acontecer, principalmente ao longo dos últimos anos, que é a necessidade de acolher alunos com proveniências distintas, muitos deles não falam o português, mas também não falam inglês e, por isso, a comunicação é difícil”.
Nesta sexta-feira, a FNE quer fazer chegar ao ministro da Educação um livro com cerca de mil mensagens recolhidas nos últimos dois meses junto da comunidade educativa. Este número ficou aquém das expectativas da FNE, facto que Pedro Barreiros justifica com a necessidade de as mensagens não serem anónimas.
"Houve muitos casos em que a resposta que deram foi que não queriam colocar nenhuma mensagem, porque nós pedimos que se identificassem, que colocassem o nome e, pelo menos, a escola ou o distrito, sendo que o campo escola não era obrigatório, mas pelo menos o nome do distrito, para percebermos também geograficamente de onde eram e respondiam que não o faziam, porque não queriam que o seu nome aparecesse”.
Pedro Barreiros salienta que “mesmo assim, algumas das mensagens que foram publicadas e aceites, o nome que aparece é professor”.
A partir dessas mensagens foi possível perceber que os alunos queixam-se das “condições físicas das escolas: da falta de ginásios, da falta de espaços para poderem estar em segurança e abrigados e da própria questão do currículo”. Quanto ao pessoal de apoio educativo “queixam-se muito das questões relacionadas com a falta de formação contínua e no caso dos professores, a contabilização do tempo de serviço e a avaliação de desempenho”.