19 dez, 2023 - 06:30 • Miguel Marques Ribeiro
Cristina acompanha a mãe às urgências do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho (CHVNGE).
Passadas três horas, a utente ainda não fez o raio-x necessário ao diagnóstico do seu estado de saúde.
A impaciência vai crescendo e Cristina acaba mesmo por explodir em plena sala de espera.
“Tiraram-na daquela sala e deixaram-na aqui”, reclama caminhando na direção de Henrique Araújo.
O auxiliar de ação médica está habituado a estas situações, pois trabalha no serviço de urgências há oito anos.
A discussão provocou mesmo a intervenção do segurança e o afastamento temporário de Cristina do interior do hospital. "Foi para me acalmar", admitiu mais tarde.
Ocorrências deste tipo são habituais nesta unidade hospitalar. “Faz parte do nosso dia-a-dia gerir conflitos”, refere Henrique Araújo.
“O serviço de urgência já por si acarreta muito tempo de espera e as pessoas não compreendem porque os procedimentos demoram tanto tempo."
No entanto, isso não quer dizer que as práticas adotadas no hospital não cumpram todos os requisitos previstos.
“Uma coisa é a nossa visão como acompanhantes e como doentes. Outra coisa é a nossa visão como profissionais que trabalham aqui todos os dias”, sublinha o profissional.
Serviço Nacional de Saúde
Atendimentos caíram 15% em novembro e 9% em outubr(...)
Isto parece “um caos, uma selva, mas para nós que trabalhamos aqui é um caos organizado”.
Nos últimos meses, tem-se assistido a uma crescente conflitualidade no Sistema Nacional de Saúde, envolvendo os profissionais e a tutela.
Foram realizadas diversas greves e a falta de recursos humanos tem obrigado ao fecho de alguns serviços.
O médico Ricardo Fernandes, que é um dos chefes da urgência, não tem dúvidas que as divergências com o ministério da Saúde ainda persistem, apesar do acordo parcial alcançado com o Sindicato Independente dos Médicos, no final de novembro.
“Andamos aqui a fazer rotundas, sem nenhuma decisão definitiva”, declara.
Apesar destes constrangimentos, a resposta aos utentes está a ser assegurada, garante o chefe do serviço de urgência de enfermagem, Adelino Pinto.
“Todas as tomadas de decisão” são feitas para garantir que “é minimizado o impacto sobre o doente”.
No entanto, a solução para o estado do Sistema Nacional de Saúde (SNS) passa por reorganizar do sistema de saúde no seu conjunto.
O objetivo é construir “um SNS que seja um bocadinho melhor”, afirma Ricardo Fernandes.
“Não no sentido da rutura e de um desvio para as estruturas privadas, mas, se calhar, de sustentar aquilo que já existe”.
Uma das prioridades será resolver o problema do congestionamento das urgências. Isso passa por encaminhar os doentes ligeiros para a rede de cuidados de saúde primários, em particular os centros de saúde, conforme já foi decidido pelo ministério da saúde.
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Para já, uma nova diretiva vai estar em consulta pública durante 30 dias. As novas regras podem ser úteis para a melhoria de funcionamento do CHVNGE no imediato.
O hospital serve um território com cerca de 344 mil habitantes e “a afluência aos serviços de urgência tem vindo a aumentar”, confirma Ricardo Fernandes.
Porém, são as urgências que inspiram menores cuidados aquelas que estão a crescer.
No caso concreto do hospital de Gaia-Espinho, e comparando dados de outubro de 2022 e 2023, uma consulta ao portal da transparência do SNS dá indicação que o número de urgências mais graves estabilizou (no caso das pulseiras vermelhas) ou que até diminuiu (no caso das pulseiras laranjas).
São as pulseiras de menor prioridade (amarelas, verdes e azuis) aquelas que cresceram em termos homólogos (entre 10 a 15%). Os valores apurados pela Renascença são confirmados pelo hospital.