22 dez, 2023 - 10:15 • Hugo Monteiro , Olímpia Mairos
A organização Frente Cívica considera que, apesar de o antigo secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales reconhecer que houve muita coisa informal no caso das gémeas tratadas no Santa Maria, falta explicar tudo o que não está nos documentos do Ministério da Saúde.
“Lacerda Sales, finalmente, depois de ter consultado a dita documentação que dizia que precisava de consultar, lembrou-se que falou com Nuno Rebelo de Sousa, mas continua a não se lembrar de muitas coisas e, portanto, a frase-chave desta entrevista é quando ele diz, do ponto de vista da informalização, 'não tenho recordação de qualquer intervenção minha'”, assinala o vice-presidente da Frente Cívica, João Paulo Batalha.
O vice-presidente da Frente Cívica destaca que Lacerda Sales “reconhece que houve aqui muita coisa de informal e, portanto, não está em documentação do Ministério da Saúde”, assinalando, no entanto, que “não se lembra que intervenção teve, se teve alguma intervenção”.
“Diz, perentoriamente, que nunca marcou ou mandou marcar consulta nenhuma, mas, depois, também não sabe explicar como é que o processo veio do gabinete do Presidente da República para o gabinete do primeiro-ministro e daí para o Ministério da Saúde e onde é que ele caiu no Ministério da Saúde porque Lacerda Sales diz que não foi consigo. Portanto, continua a haver coisas cruciais que não estão explicadas”, aponta.
Na visão de João Paulo Batalha, "se a investigação não tiver suporte documental e depender da memória, da boa ou má memória das pessoas envolvidas, corremos o risco de nunca saber”.
“Nalgum ponto este processo informal do contato pessoal e o processo vindo da Presidência se cruzaram e alguma coisa aconteceu e é dramático que Lacerda Sales não saiba explicar isso. Dramático porque ficamos sem respostas para o caso concreto e dramático porque ficamos a perceber que há muita coisa informal que nunca é sequer documentada. Depois, não conseguimos reconstituir e perceber como aconteceu”, lamenta.
Nestas declarações à Renascença, o vice-presidente da Frente Cívica defende que era bom para o país que Nuno Rebelo de Sousa falasse sobre o caso. Mas certamente seria pior para ele, que enfrenta o risco de ser constituído arguido.
“Era bom para o país que Nuno Rebelo de Sousa desse explicações, provavelmente era mau para o próprio Nuno Rebelo de Sousa”, diz João Paulo Batalha, realçando que o filho de Marcelo “tem que estar a contemplar a probabilidade real de vir a ser constituído arguido para ser formalmente investigado num caso de suspeitas de tráfico de influência”.
“É natural que não tenha vontade de prestar declarações, nem à comunicação social nem, por exemplo, ao Parlamento, até para se resguardar de uma defesa jurídica que ele vai ter que fazer na intervenção que teve”, remata.
António Lacerda Sales confirmou, em entrevista ao Expresso, que recebeu em audiência o filho do Presidente da República, antes das crianças darem entrada no hospital. No entanto, há ainda muito por explicar, considera João Paulo Batalha. O vice-presidente da Frente Cívica diz que Lacerda só se lembra do que está nos documentos e esquece o que terá acontecido de modo informal.