25 dez, 2023 - 12:17 • Anabela Góis
Portugal precisa de mais dois centros de cirurgia cardíaca para reverter a realidade atual, em que os doentes esperam demasiado tempo e há uma estagnação da atividade cirúrgica.
É o que se lê na proposta de atualização da Rede de Referenciação Hospitalar de Cirurgia Cardíaca, que está em consulta publica até hoje.
A falta de profissionais é, segundo Filipe Macedo, uma das maiores dificuldades para pôr este plano em prática, mas o coordenador da proposta acredita que a criação de centros novos pode atrair mais médicos.
"Estamos a pensar criar dois centros de cirurgia cardíaca novos, um no Sul e outro no Norte", começa por dizer, à Renascença, Filipe Macedo. Os locais vão "depender dos hospitais e das condições logísticas", bem como de "existirem recursos humanos, de cirurgiões cardíacos para abraçarem este projeto", explica, porque "criar um centro cirúrgico de coração envolve bastantes recursos humanos" e "um conjunto de vontades entre as administrações hospitalares locais e os colegas de cirurgia cardíaca".
Para Filipe Macedo, "cirurgiões não há muitos", mas a criação de dois centros poderia "criar uma dinâmica própria" que ajuda a organizar as coisas.
Há mais de dois mil doentes na lista de espera para cirurgia cardiotorácica, sendo que a média dos tempos de espera, em algumas zonas do país, ultrapassa os quatro meses. Com oito centros de cirurgia cardíaca a capacidade de resposta ficaria mais próxima das necessidades, defende o coordenador.
"A população está a envelhecer. Naturalmente, há patologias do idoso relacionadas com doenças do coração, nomeadamente, o problema da estenose aórtica do idoso, mas depende de zonas para zonas", elabora. Esta "atualização da rede referencial" poderia ajudar na tarefa de "contemplar em tempo útil o tratamento dos doentes". Tudo para tentar diminuir os tempos de espera que, "em alguns centros", são superiores ao esperado, pelo que a criação destes dois novos centros poderia ajudar a "melhorar o atendimento dos doentes".
A proposta em discussão publica prevê ainda uma maior integração entre os cuidados primários e o sistema hospitalar e, com esse objetivo, vão ser alargados os meios de diagnóstico que os médicos de família podem prescrever para detetar mais cedo a doença cardíaca.
"Há um exame que é fundamental, que é a monitorização da pressão arterial durante 24 horas, que os médicos de medicina geral e familiar vão poder prescrever. Outro exame muito importante chama-se peptídeos natriuréticos: isto significa que quem tem suspeita de insuficiência cardíaca pode fazer este exame em ambulatório, a pedido do médico de família", adianta Filipe Macedo. "Vai haver também atualização dos pedidos de ecocardiograma. O eco doppler é um exame muito importante para o estudo da patologia valvular e para a função diastólica da insuficiência cardíaca, e também vão ter acesso a um exame, que é muito importante, que que é o score de cálcio, que é ver se a pessoa tem muito ou pouco cálcio e é um marcador de prognóstico em relação à patologia das coronárias", acrescenta o coordenador das propostas para rever as Redes de Referenciação Hospitalar de Cirurgia Cardíaca, Cardiologia Pediátrica e Cardiologia.
Em Portugal, os doentes com indicação para cirurgia cardíaca emergente têm resposta imediata, mas o mesmo não acontece com os doentes com indicação para cirurgia cardíaca urgente, doentes que não podem ter alta hospitalar dos serviços onde estão internados, por risco de agravamento imprevisível.