27 dez, 2023 - 14:29 • Alexandre Abrantes Neves
Uma figura da democracia e uma mulher de paixões. É assim que os colegas de bancada do Partido Comunista Português (PCP) lembram Odete Santos, a antiga deputada que morreu esta quarta-feira, aos 82 anos.
Bernardino Soares, líder parlamentar comunista durante alguns dos mandatos de Odete Santos na Assembleia da República, destaca a "mulher singular" que juntava "competência e paixão" em todas as causas que abraçava, nomeadamente a luta pelos mais desfavorecidos.
"Além do estudo aprofundado e do conhecimento completo que tinha das matérias que abordava, a sua mensagem de transmitir as suas convicções era absolutamente cativante e transformou-a numa pessoa muito admirada, por muita gente em Portugal, por muitos setores. Deixa uma marca indelével na vida portuguesa", explica o atual membro do Comité Central do PCP.
Para além da defesa dos direitos dos trabalhadores e da luta por "um país e um mundo mais justo", Bernardino Soares sublinha o trabalho feito por Odete Santos no campo dos direitos das mulheres, cuja coragem foi um "expoente dessa luta" e permitiu que "as mulheres do nosso país deixassem de ser vistas como criminosas quando fazem uma interrupção voluntária da gravidez".
António Filipe, que foi colega de bancada de Odete Santos no parlamento, classifica a morte da antiga deputada como uma "enorme tristeza", já que se tornou numa "grande referência do PCP, mas também da Assembleia da República e da democracia portuguesa". Para além da "intervenção cívica de Odete Santos no teatro e na literatura", o ex-deputado comunista sublinha ainda o trabalho "pioneiro e generoso" que fez na área do direito.
"Teve um papel destacadíssimo na criação dos julgados de paz em Portugal: foi a primeira subscritora do primeiro projeto de lei para a criação dos julgados de paz e que veio a ser veio a ser aprovada. Já como advogada, na cidade de Setúbal, destacou-se sobretudo pela sua intervenção enquanto em defesa dos dos mais desfavorecidos e das mulheres acusadas de aborto clandestino. Aliás, havia muitas pessoas que a Odete Santos apoiou como advogada e que não tinham meios para pagar, fê-lo gratuitamente", rematou.