10 jan, 2024 - 10:08 • João Cunha
Se fosse uma funcionária e não uma voz gravada e automática a dar conta das supressões e atrasos na circulação a quem esperava, na manhã desta quarta-feira, por um comboio na Gare do Oriente, no Parque das Nações, não havia copos de água que chegassem para manter a voz limpa.
De cinco em cinco minutos, lá vinha o "senhores passageiros, o comboio suburbano proveniente de Sintra e com destino a Alverca, que deverá dar entrada na Linha número 1, circula com um atraso de 15 minutos", ou, pior: "Senhores passageiros, o comboio Alfa, com destino a Braga e hora de partida aos 7.39 minutos foi suprimido."
Alda Santos ia precisamente para Braga. Chega a arfar, depois de subir dois lanços de escadas, carregada com uma mochila e um saco a tiracolo. Pousa ambos em cima de uma mesa de uma esplanada do único café da estação e desabafa: "É um transtorno. Nós temos tudo combinado com outras pessoas e depois... Se fosse em passeio era uma coisa, mas vou em trabalho", diz à Renascença.
Alda faz, contudo, questão de sublinhar que "é um direito deles, temos de aceitar".
Aceitar e esperar, porque não resta outra solução para muitos dos habituais utentes da CP. Veja-se o caso de Luísa Fonseca, que chega à plataforma da estação, coberta de nevoeiro, num dos comboios previstos nos serviços mínimos.
"Foi mau, muito mau, porque eu já devia estar a trabalhar. E ainda estou aqui. É horrível".
Ainda não chegou ao trabalho, mas, precavendo-se, já sabe que ao fim da tarde não vai passar pelo mesmo, na hora de regresso a casa, já que o marido vai buscá-la ao trabalho.
Entretanto, os comboios de serviços mínimos chegam e partem com atrasos. À chegada, os passageiros abandonam as carruagens e os que ficam esperam entre 10 e 15 minutos que o comboio receba instruções para prosseguir viagem.
A fumar um cigarro - o que á primeira vista parece contraditório, já que chegou de bicicleta à estação - António Pinho pode sempre fazer-se à estrada, depois de um dia de trabalho, para regressar a casa. Para já, espera pelo comboio que o levará até Alverca.
Vale-lhe o patrão, que é compreensível e que "perdoa" atrasos em dias de greve na CP.