26 jan, 2024 - 07:00 • Cristina Nascimento
Há falta de computadores para os alunos nas escolas, seja por avaria dos aparelhos, seja por falta de equipamentos. O cenário é descrito pelo presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima.
Numa altura em que um terço do ano letivo já passou, Filinto Lima identifica vários aspetos, no âmbito da distribuição dos kits digitais, que precisam ser corrigidos.
“É um processo bastante complexo e que tem enormes constrangimentos, desde logo um dos primeiros que queremos apontar é que, estando avariado o computador, estando fora da garantia, muitos pais não querem ter um encargo de mandar consertar”, explica, acrescentando que “muitos ficam encostados nas salas das escolas, sem os educandos poderem ter acesso aos mesmos”.
“Depois também há escolas que estão a aguardar a chegada de computadores. Ainda não foram todos entregues nas nossas escolas”, lamenta.
Aos computadores avariados ou falta de aparelhos, junta-se o problema de falta de recursos humanos.
“O processo de entrega [do computador] ao encarregado de educação envolve um contrato de comodato, é um processo complexo e bastante moroso. Há escolas que estão a desencadear este processo, mas não têm recursos humanos suficientes para que seja um processo rápido”, diz ainda.
Filinto Lima diz que os problemas são transversais em todo o país e graus de ensino, considerando que neste momento “é um constrangimento” na aprendizagem.
“Há alunos nas escolas que ainda não têm computador e também muitos pais dirigem-se às escolas a perguntar aos diretores e às direções executivas pelo computador dos seus filhos”, descreve, reforçando tratar-se “de um constrangimento, neste momento, para o processo de ensino e aprendizagem”, dado que os professores recorrem “muito” às ferramentas digitais.
Além da falta de computadores, computadores avariados e falta de recursos para acelerar o processo de entrega, Filinto Lima identifica outro problema. Segundo o presidente da ANDAEP, muitas escolas não têm uma rede de wi-fi “estável” e os professores têm de ir para as aulas “com um plano A e um plano B: o plano A se houver net, o plano B se a net estiver em baixo”.
Filinto Lima recorda que, ao contrário do que acontecia há uns anos, as escolas têm cada vez mais aparelhos e recorre-se cada vez mais às tecnologias. Como tal, defende que “devia chegar o quanto antes às escolas a figura de um técnico de informática que permitisse uma manutenção e reparação rápida dos aparelhos”.
Nesta entrevista à Renascença, Filinto Lima sugere ainda que “o seguro escolar seja alargado para abranger a questão do arranjo dos computadores”.
O presidente da ANDAEP recorda que este ano há vários exames que vão ser feitos em formato digital, entre os quais provas de aferição, exames finais de 9º ano e, nalgumas escolas, exames nacionais de 12º.
O dia da prova não será problema, uma vez que as escolas terão material alternativo, mas até a falta de computadores “traz desigualdade e traz falta de equidade”.
“Os nossos alunos não estão no mesmo plano de aprendizagem, porque uns têm computador e outros não têm. É preciso haver a chamada justiça social, pelo menos com os nossos alunos”, explica.
Filinto Lima assegura que “as escolas tudo fazem para que, em contexto de sala de aula, os nossos alunos possam ter computador, mas quando chegam a casa muitos não têm”, não podendo, por exemplo, praticar e ambientar-se com as provas em meio digital.
Nestas declarações à Renascença, Filinto Lima garante que o Ministério está a par da situação e preocupado em resolver, mas até agora não há perspetiva de quando é que os problemas serão solucionados.
Contactado pela Renascença o Ministério da Educação assegura que foram adquiridos um milhão de computadores e que os aparelhos “estão entregues nas escolas, desde dezembro de 2022”.
O gabinete de João Costa garante também que, em caso de falta dos computadores, “as escolas implementam medidas de flexibilidade como sejam a possível atribuição a um aluno do 9º ano de um equipamento tipo III (destinado ao secundário), porque não tem no imediato disponíveis computadores de tipo II”.
A distribuição dos kits digitais começou em 2020, no rescaldo da pandemia. Inicialmente tiveram prioridade na distribuição destes equipamentos os alunos mais carenciados, mas atualmente a sua distribuição é universal.
O programa escola digital prevê que os alunos tenham de devolver o computador que recebem quando deixam o agrupamento de escolas que frequentam ou quando transitam do primeiro ciclo para o segundo ou do terceiro ciclo para o secundário.
Os kits digitais têm três níveis de equipamentos, consoante o grau de ensino – tipo I para o primeiro ciclo, tipo II para o segundo e terceiro ciclo e tipo III para o secundário.
O gabinete de João Costa lembra que “em cada escola e no final e início do ano letivo” têm de ser feitos “acertos” face a estas mudanças.
Sobre os aparelhos avariados, o Ministério esclarece que “há um suporte técnico enquadrado na garantia assegurada pelos fornecedores dos computadores e está em curso um sistema de reparações daqueles que não estão cobertos pela garantia”.
A Renascença procurou saber ao certo quantos computadores estão avariados, mas esse número não foi disponibilizado.