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Prémio BIAL para investigação sobre cancro agressivo no cérebro

20 fev, 2024 - 08:00 • Anabela Góis

Investigadores demonstraram que os gliomas são capazes de se integrar na função do cérebro, e que informações de células cerebrais saudáveis, normalmente usadas em funções como o pensamento e a memória, impulsionam a sua progressão.

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O Prémio BIAL em biomedicina distingue uma investigação que permite compreender melhor o glioma, um cancro do cérebro muito agressivo, com um tempo médio de sobrevivência de ano e meio, mesmo com tratamentos de última geração.

São 300 mil euros para uma equipa liderada por Varun Venkataramani, Frank Winkler e Thomas Kuner, da Universidade alemã de Heidelberg.

Os investigadores demonstraram que os gliomas são capazes de se integrar na função do cérebro, e que informações de células cerebrais saudáveis, normalmente usadas em funções como o pensamento e a memória, impulsionam a sua progressão.

A descoberta ajuda a explicar algumas das características bizarras dos tumores cerebrais, como o facto de se poderem “entrelaçar” por todo o cérebro, enquanto outros tipos de tumor simplesmente formam um nódulo duro ou uma massa.

Este facto também pode explicar – pelo menos em parte – por que razão os tumores cerebrais muitas vezes não são detetados e apresentam poucos sintomas.

Para Fátima Carneiro, diretora do serviço de Anatomia Patológica da Unidade Local de Saúde São João e membro do júri Bial, este trabalho científico é “interessantíssimo porque descobriu uma forma de comunicação entre as células nervosas do cérebro e as células de tumores malignos que se desenvolvem nesse órgão”.

Ficou demonstrado que os gliomas são capazes de se integrar na função do cérebro, que informações de células cerebrais saudáveis, normalmente usadas em funções como o pensamento e a memória, impulsionam a evolução desses tumores.

“Há uma comunicação entre estas células nervosas e as células do tumor, que promovem a sua proliferação e o seu crescimento de uma forma difusa no cérebro, o que faz com que este tumor seja particularmente difícil de ressecar por métodos cirúrgicos, e tenha um prognóstico muito reservado”, explica Fátima Carneiro.

Para além de representarem um importante avanço para a compreensão de como o cancro do cérebro progride, esta investigação também sugere caminhos específicos para o seu tratamento: “levantou a possibilidade de fazer o tratamento deste tumor utilizando fármacos antiepiléticos”, sublinha a especialista em Anatomia Patológica.

“A epilepsia é uma doença que se caracteriza pela hiperatividade dos neurónios e há fármacos específicos para controlar a doença. O que estes investigadores propuseram foi a constituição de ensaios clínicos em que se tenta utilizar esta droga para controlar o crescimento do glioblastoma”, refere Fátima Carneiro.

Nesta altura ainda não há resultados porque os ensaios clínicos ainda estão em curso, mas Fátima Carneiro considera que “é uma perspetiva promissora no sentido do tratamento deste tipo particularmente agressivo de tumor cerebral”.

A cerimónia de entrega do BIAL Award in Biomedicine 2023 vai decorrer esta terça-feira à tarde e será presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No ano passado, dois dos cientistas vencedores, Katalin Karikó e Drew Weissman, foram distinguidos com o Prémio Nobel da Medicina 2023, pelas suas descobertas que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes baseadas na tecnologia de mRNA para prevenir a Covid-19.

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