09 mar, 2024 - 08:21 • Lusa
A logística urbana no Porto está marcada por problemas como estacionamentos em segunda fila, por cima de passeios, ciclovias ou faixas BUS, segundo a associação MUBi, que organiza este sábado um debate sobre o tema na livraria Gato Vadio.
"É muito fácil ver as carrinhas que estão a fazer entregas logo de manhã ali na [rua da] Constituição, em várias partes da cidade em segunda fila, em cima da passadeira até, em cima da ciclovia, em cima da faixa BUS, em cima de qualquer coisa, e a atrapalhar o trânsito na cidade, e sobretudo a colocar em perigo quem se desloca em bicicleta, e nomeadamente a atrapalhar os transportes públicos, que deviam ter prioridade numa cidade", disse à Lusa Vera Diogo, presidente da MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, que organiza o debate.
Este sábado, pelas 16h30, na livraria Gato Vadio a conversa aberta "O espaço urbano para quem? Problemas e soluções em entregas nas nossas cidades", organizada pela livraria, pela MUBi e pela CicloLogística Porto, debate esta problemática, com enfoque nas alternativas oferecidas pela mobilidade suave e não só centradas no automóvel, que ocupa mais espaço na rua e é mais poluente.
Vera Diogo, que moderará a conversa, considera que a solução "passaria justamente por ter políticas que obrigassem a logística da cidade a ser organizada de outra forma".
A VCI continua a ser a única opção para os veículo(...)
"A mudança cultural tem de começar por algum lado, e as políticas podem impulsionar uma mudança cultural, porque servem para regular comportamentos, e neste caso sendo elas impostas a empresas, é bastante mais fácil - pelo menos mais direto - controlá-las do que controlar os cidadãos em geral", disse.
Como exemplo, referiu que poderiam ser implementadas medidas como "recorrer aos camiões até à entrada da cidade, ter os grandes "hubs" nessas áreas e depois, então, a partir daí fazer a canalização noutros veículos mais leves e ter outros "hubs", ou pequenos armazéns, mais na área da cidade consolidada para as "cargo bikes" [bicicletas de carga] poderem, a partir daí, fazer a distribuição".
Vera Diogo refere que o Porto "ainda está bastante longe" do ideal em termos cicláveis, mas contraria uma certa ideia feita de uma cidade difícil para pedalar: "Tem todas as condições para ser uma boa cidade para andar de bicicleta, porque é relativamente pequena, e tem um bom planalto central, embora se fale sempre muito das colinas do Porto".
A presidente da MUBi considera também que o argumento da meteorologia "não serve" para o Porto, até porque apesar da habitual chuva, "há países onde objetivamente o tempo é bastante pior, as condições são bastante piores e durante uma parte maior do ano, e não há esse motivo".
Segundo Vera Diogo, "havendo ciclovias seguras, claro que mais pessoas se aventuravam a desenvolver e a manter" atividades económicas com recurso à ciclologística, "porque já houve alguns negócios que entretanto desapareceram".
"Agora, o que faltam são infraestruturas, e também maior sensibilização da parte dos condutores. É frequente sentirem que têm mais direito à estrada. Mas a verdade é que a cidade e as várias ruas, os vários acessos, estão feitos para que eles se sintam assim", observa.
Sem ter números exatos, a presidente da MUBi observa que "têm aumentado" os utilizadores de bicicleta na cidade, dando como exemplo associados que usavam o carro para vir de Gaia para o Porto e perceberam que "estavam a desperdiçar uma parte importante do seu dia-a-dia" parados no trânsito.
"Depois temos muitos casos de pessoas que estiveram na Bélgica, ou noutros países, e quando voltaram quiseram continuar a usar a bicicleta", nota ainda.
O debate de hoje conta com a participação da investigadora Catarina Breia Dias, da Future Design of Streets Association, de João Gonçalves, da STCP Serviços, de José Braga, da ciclopatrulha da Polícia Municipal do Porto, de Catarina Leitão, da Zero Plástico, e de Stef Michielsens, da CicloLogística Porto.
Na quinta-feira haverá um debate sobre a mesma temática em Lisboa.