12 mar, 2024 - 07:00 • Redação
Mais de três meses depois da entrada em operação, a rede UNIR - que agrega empresas de transportes de 17 concelhos do Grande Porto - continua a gerar queixas e críticas. Depois das reclamações dos passageiros, chegou a vez dos trabalhadores. Os queixosos são principalmente motoristas de autocarros, nomeadamente imigrantes.
Em declarações à Renascença, um motorista faz referência, sob anonimato, a incumprimentos nos contratos. Em causa está uma alegada exigência do pagamento de uma verba, inicialmente avançada pela empresa para apoiar a instalação de motoristas brasileiros em Portugal. Nessa montante, estariam incluídos 30 dias de alojamento num hotel, o bilhete de avião e um adiantamento no salário.
A empresa quer agora aumentar o valor inicialmente acordado para esta cobrança. “Queremos que se cumpra o que está escrito. Só que, agora, o que está escrito eles não querem cumprir. No contrato está bem claro que o que deve ser cobrado: 30 dias de hotel, mais os 650 do bilhete aéreo e mais 1.000 ou 1.019, que era o valor que nós devemos para empresa e em nenhum momento ninguém está se negando a pagar, só que seja só isso, nada mais”, explica o motorista.
Os trabalhadores dizem ter sido apanhados de surpresa quando foram avisados por email de que tinham uma dívida, maior do que suposto, para pagar.
“Uns dois meses atrás a empresa mandou para gente um email, em que nós tínhamos uma dívida para pagar e ficou em média de 143 euros por mês para cada um”. O valor seria “descontado em 24 vezes e isso pegou todo mundo de surpresa, porque todo mundo estava preparado para os 90 euros, no máximo 90 euros”.
Os trabalhadores dirigiram-se à empresa e exigiram a apresentação dos recibos da despesa, mas a empresa respondeu que “não tem como apresentar isso”.
Estes motoristas oriundos do Brasil queixam-se de terem assinado, afinal, “um contrato fantasma”.
“Quando chegamos aqui, a gente chegou numa sala e mostraram para a gente ‘agora é isso aqui’, a gente não podia mais voltar."
Perante os testemunhos dos motoristas da UNIR recolhidos pela Renascença na zona da Trofa, onde se concentra uma boa parte dos trabalhadores estrangeiros, o administrador Luís Cabaço Martins, do grupo Barraqueiro, diz que tudo não passa de “uma grande confusão”.
Cabaço Martins garante ter informado de que “iria adiantar essas verbas e que a seu tempo iria recuperar esse dinheiro, de acordo com um desconto mensal e de acordo com os limites que estão na lei”.
“Penso que é um não-assunto. O tema foi todo esclarecido, foi todo falado. E, portanto, penso que não há nenhum problema particular e a empresa está de consciência tranquila”, garante o administrador do grupo Barraqueiro, um dos operadores da UNIR.
Contactado pela Renascença, o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN) assegura que os trabalhadores irão marcar “um pré-aviso de greve e parar” caso a situação não seja resolvida. No limite, o caso poderá avançar para tribunal caso “descontado mais aos trabalhadores”, alerta José Manuel Silva, coordenador do STRUN.