16 mar, 2024 - 09:00 • Hugo Monteiro
Nuno Botelho considera ser "quase impossível" que a lei da Eutanásia não volte a ser discutida na Assembleia da República. Por um lado, devido "à nova composição do Parlamento", saída das eleições de 10 de março, por outro, devido à "posição muito forte" e "muito corajosa" da Provedora de Justiça.
No seu espaço de comentário semanal na Renascença, o presidente da Associação Comercial do Porto comentou a decisão de Maria Lúcia Amaral de requerer ao Tribunal Constitucional a declaração de inconstitucionalidade da lei da morte medicamente assistida. Um requerimento que Nuno Botelho diz ter "argumentos jurídicos muito fundamentados, nomeadamente na questão da inviolabilidade do direito à vida". "Estou certo que isto vai reanimar o debate", diz, até porque, lembra, o Parlamento tem uma "nova configuração muito mais à direita".
Nuno Botelho também comentou o resultado das eleições legislativas, para assumir ter ficado surpreendido com o resultado conseguido pelo Chega. "Já todos contávamos com um crescimento grande do Chega. Mas não contava com um crescimento tão grande", diz o presidente da Associação Comercial do Porto, que identifica na votação conseguida pelo partido de André Ventura "um voto de protesto e um voto de quem está farto, muito queixoso e muito zangado com os partidos do centro". "O Chega é, no meu entender, o grande vencedor da noite e um partido que cresce de uma forma exponencial", à custa de "500 mil votos perdidos, por exemplo, pelo Partido Socialista e também pelo eleitorado muito tradicional da CDU a sul do Tejo" e isso é, "de facto, algo que deve fazer os políticos pensar".
AD e abstenção a descer: "A AD, de facto, ganha as eleições, mesmo que por uma unha negra, mas ganha e muda o panorama político. Vai, agora, ter a oportunidade de mostrar um caminho alternativo. É um caminho curto, é um caminho estreito e pode ser curto, mas estou em crer que temos aqui novos tempos e uma mudança que os portugueses, de facto, quiseram. Gostaria também de destacar a abstenção. Houve mais 9% de eleitores a votar. O que é, de facto, muito bom. É a menor abstenção desde 1995, o que mostra que as pessoas estão interessadas e querem ter uma palavra a dizer no futuro do país. Isso é muito positivo".
PS, PCP e Bloco de Esquerda: "O PS aparece como derrotado. Perde 13% dos votos, desbaratando completamente uma maioria absoluta. Pôs em causa aquilo que se dizia que era uma estabilidade e foi penalizado eleitores. A CDU também está em completo desnorte. Perde dois deputados - tinha seis e passa a quatro - e, de facto, continua a sua erosão constante. A sua posição relativamente a Putin e as suas posições muito dogmáticas em relação essas questões estão a penalizar o partido. Já o Bloco de Esquerda perde para o Livre a imagem de partido fresco e moderno de esquerda. Aparece sempre como preocupado em alianças com o PS e não tanto em resolver os problemas e a propor alternativas para o país, não percebendo que esse país tem mudado, o que é negativo.