19 mar, 2024 - 08:10 • André Rodrigues
Há cada vez mais jovens a serem encaminhados para tratamentos de alcoolismo, admite à Renascença o presidente da associação Alcoólicos Anónimos (AA).
Mário Marques reconhece que a dependência do álcool continua a ser percecionada como um problema que afeta, sobretudo, pessoas acima dos 50 anos, mas “cada vez é menos assim”.
O presidente dos AA admite que há “pessoas cada vez mais jovens nos serviços de tratamento, já com problemas graves, quer físicos, quer psicológicos, devido ao seu consumo de álcool".
"Estamos a falar de pessoas na casa dos 20 anos, na terceira década de vida, que era uma coisa que há uns anos não aparecia”, acrescenta.
De acordo com os dados dos AA a que a Renascença teve acesso, no ano passado a linha de apoio recebeu 1.555 pedidos de ajuda e, nos últimos cinco anos o número tem crescido de forma gradual.
Em todo o ano de 2019, os AA receberam um total de 1.161 pedidos de ajuda na linha de apoio.
Mário Marques admite que um dos fatores para o crescimento, sobretudo no pós-pandemia, é a “criação de reuniões dos AA online, o que facilitou bastante que as pessoas pudessem ter acesso, mesmo em sítios onde não existiam reuniões físicas”.
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O reverso dessa “mais-valia para quem precisa desta ajuda” são as marcas dos confinamentos de 2020 e 2021.
O presidente dos AA constata que “no primeiro confinamento, os dados mostram que não houve um aumento generalizado de consumo de álcool, ao contrário do que toda a gente estava pensar”.
“Houve aumento, sim, mas em pessoas que, previamente, já tinham problema de consumo de álcool, ou um alcoolismo instalado”, assinala.
No caso dos jovens, “até houve diminuição, porque o consumo de álcool nos jovens está muito associado aos ambientes recreativos noturnos. E tudo isso fechou”.
No confinamento do ano seguinte, muita coisa mudou. A começar pela esperança gorada de um confinamento que toda a sociedade acreditava que não iria além do verão de 2020.
“Foi a falta de esperança, que está muito associada às perdas”, recorda o presidente dos AA.
“Muita gente morreu, muitas famílias que tiveram perdas e tudo isso acabou por aumentar o consumo de álcool”, conclui.
Relacionando o efeito da pandemia com a evolução dos pedidos de ajuda entrados na linha de apoio dos AA, as duas maiores subidas ocorreram entre 2019 e 2020 (de 1.161 para 1.353 contactos) e entre 2021 e 2022 (de 1.366 para 1.517).