20 mar, 2024 - 21:15 • Redação
Os estudantes universitários da cidade do Porto marcharam, esta quarta-feira, de malas de viagem em direção à Avenida dos Aliados, como símbolo de protesto à emigração jovem.
Numa iniciativa organizada pela Federação Académica do Porto (FAP) para assinalar o próximo Dia Nacional do Estudante, cerca de 300 estudantes da Universidade do Porto juntaram-se na estação de metro da Trindade com malas de viagem na mão. Os estudantes caminharam em grupo até à Avenida dos Aliados, onde se encontrava uma estrutura igual a uma porta de embarque de aeroporto, que “representa o destino da Geração 30”, afirma o presidente da FAP, Francisco Porto Fernandes.
“Desde 2011, os licenciados perderam 30% de poder de compra. Saímos da casa de nossos pais aos 30 anos, e 30% dos jovens entre os 20 e os 28 anos emigraram, segundo os dados do Observatório para a Migração. Por isso somos a Geração 30”, explica à Renascença o presidente da FAP.
Para além da porta de embarque, nos Aliados estavam 30 testemunhos de jovens estudantes, que abordavam problemáticas como a crise do alojamento estudantil, o deterioramento da saúde mental dos estudantes, os baixos salários, entre outras.
“Simbolizamos uma geração que não se resigna a emigrar no dia seguinte ao ensino superior. O discurso sobre os problemas dos estudantes é vasto, mas faltam ações concretas”, admite Francisco Porto Fernandes.
Para o presidente da FAP, o início da solução parte de passar a existir no novo Governo um ministro do Ensino Superior.
“Luís Montenegro, ao que tudo indica, vai ser esta quarta-feira indigitado primeiro-ministro. Achamos que ele deve criar um ministro do Ensino Superior e colocar a juventude à sua tutela. Montenegro já anunciou que vai ter um plano de emergência para a saúde, então porque não ter um plano de emergência para habitação estudantil? Desde 2019 prometeram-nos 18.000 camas e cumpriram apenas 484.”
No que toca à saúde mental, Francisco Porto Fernandes acredita que “tem de haver uma estratégia de aumento do rácio de psicólogos nas universidades” bem como um “investimento em atividades que permitam proporcionar o bem-estar psicológico aos estudantes”.
“É preciso coerência, é impossível ter bem-estar psicológico com quatro exames numa semana e com 30 horas de aulas por semana. E depois, é também preciso dar esperança. Obviamente que ninguém pode estar bem psicologicamente se no dia a seguir ao ensino superior o melhor destino que tem é emigrar, ou se sabe que está a prejudicar significativamente as finanças dos pais para pagar um quarto a 400 euros por mês.”
Francisco Porto Fernandes admite sentir-se "triste” com o decréscimo de jovens deputados no Parlamento, em comparação com a legislatura anterior, e com a “falta de debate sobre o ensino superior na campanha eleitoral”.
“Tenho esperança de que neste cenário de difícil governabilidade, os partidos se entendam e coloquem como prioridade o ensino superior. Fala-se tanto crescimento económico, o ensino superior é crucial para o crescimento económico de qualquer país, e por isso o que nós pedimos é uma prioridade pela educação, uma prioridade pelo Ensino superior.”
A Federação Académica do Porto vai enviar um conjunto de 30 medidas a todos os partidos, e, nas próximas semanas, uma proposta de plano de emergência para o alojamento estudantil ao primeiro-ministro indigitado.
O Dia Nacional do Estudante é já no próximo domingo, dia 24 de março.