22 mar, 2024 - 07:20 • Anabela Góis
Portugal tem mais casos de tuberculose do que a média dos países da Europa Ocidental. São dados do mais recente Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose, divulgado esta sexta-feira pela Direção-Geral de Saúde (DGS).
Os dados, relativos a 2022, apontam para 13,4 casos por 100 mil habitantes, em território português. Os homens são os mais afetados e a região de Lisboa e Vale do Tejo regista a maior incidência de casos, com 17,8 em 100 mil.
Na região Norte há, igualmente, números acima da média portuguesa, com 15,8 casos por 100 mil habitantes. Na população imigrante verificou-se aumento da proporção de casos..
De acordo com o estudo, estes dados ameaçam as metas internacionais para 2035. À Renascença, Isabel Carvalho, diretora do Programa Nacional para a Tuberculose da DGS, diz que o objetivo é "descer a um valor percentual" e refere, que, os números têm aumentado junto da população mais frágil.
"Se tivermos uma proporção crescente de pessoas que têm tuberculose ativa, que é o que está a acontecer em Portugal, que pertencem a grupos mais vulneráveis nós podemos – e é o que temos feito - atuar juntos destes grupos para impedir que eles desenvolvam a doença. É isso que tem que ser ainda mais trabalhado para que a descida da curva seja mais acentuada", aponta.
A especialista refere que, para acelerar a redução de casos, a estratégia "não pode ser apenas identificar quem está doente", mas também "procurar quem ainda não está doente, para que não seja o futuro caso, ou seja, quem está infetado e oferecer tratamento preventivo".
O número de dias até ao diagnóstico da tuberculose anda em média nos 82 dias, o que continua a ser muito tempo para Isabel Carvalho.
"Consideramos que a tuberculose não existe, não pensamos nela e protelamos a procura de ajuda. Para além disso, há outro problema que é os profissionais de saúde também pensarem em tuberculose. Claro que o maior peso no atraso é responsabilidade do utente e há vários fatores que podem contribuir para isso, um deles é a perceção de que temos sintomas", realça.
No entanto, a especialista da DGS reconhece que há, igualmente, dificuldade "no acesso aos cuidados de saúde". Por isso, o objetivo será "reestruturar e tornar mais robusta a resposta dos cuidados de saúde" e "centralizar a consulta de tuberculose na comunidade, próxima dos utentes, próxima da família dos conviventes, algo comunitário".
"Mas, por outro lado, o que nós também precisamos é que exista toda uma interligação com as várias estruturas, que é o que temos feito cada vez mais, com as estruturas de apoio ao imigrante, com as estruturas de apoio às pessoas com dependências", destaca, ainda.