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Só dois arguidos vão falar no julgamento de "Xuxas" por tráfico de droga

02 abr, 2024 - 14:14 • Lusa

O grupo liderado por 'Xuxas' tinha "ligações estreitas" com organizações de narcotráfico do Brasil e da Colômbia e importava elevadas quantidades de cocaína, segundo o Ministério Público.

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Apenas dois dos 16 arguidos do processo de tráfico de cocaína que envolve Rúben Oliveira (Xuxas) manifestaram esta terça-feira intenção de falar no início do julgamento que decorre sob fortes medidas de segurança no Campus de Justiça, em Lisboa.

O julgamento principiou com a identificação pelo coletivo de juízes, de todos os arguidos do processo, tendo William Cruz e Gurvinder Singh sido os únicos a expressarem a vontade de prestarem declarações nesta primeira sessão de julgamento no Juízo Criminal de Lisboa.

Rúben Oliveira, conhecido por Xuxas, o principal arguido, disse não pretender, para já, prestar declarações em tribunal, podendo fazê-lo mais tarde. Também a sua mulher, Carla Oliveira, e os restantes arguidos disseram que, de momento, não tencionam falar, usando da prerrogativa dos arguidos de se remeterem ao silêncio.

A juíza presidente, Filipa Araújo, decidiu iniciar o interrogatório de William Cruz, mas na ausência dos restantes arguidos, uma situação pouco habitual, mas que permite que o arguido que decidiu falar não se sinta coagido pela permanência na sala dos restantes arguidos acusados e pronunciados por crimes de tráfico de droga agravado, associação criminosa e branqueamento de capitais, entre outros ilícitos.

No início do julgamento, o advogado Vítor Parente Ribeiro, defensor de "Xuxas", criticou o facto de já ter existido um julgamento popular, através da comunicação social, mas a juíza presidente interrompeu-o, pedindo-lhe que se cingisse aos factos em julgamento e não a considerações daquele tipo sobre alegados julgamentos na praça pública.

Antes, à entrada do tribunal e em declarações aos jornalistas, Vítor Parente Ribeiro considerou que "90 por cento do processo (acusação) é fantasia" e acusou a comunicação social de condenar antecipadamente o seu constituinte.

De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), o grupo criminoso, liderado por Rúben Oliveira, tinha "ligações estreitas" com organizações de narcotráfico do Brasil e da Colômbia e desde meados de 2019 importava elevadas quantidades de cocaína da América do Sul.

A organização chefiada por "Xuxas" tinha - ainda de acordo com a acusação - ramificações em diferentes estruturas logísticas em Portugal, nomeadamente junto dos portos marítimos de Setúbal e Leixões e no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, permitindo assim utilizar a sua influência para importar grandes quantidades de cocaína escapando a fiscalização.

Naqueles locais de desembarque, a PJ realizou apreensões de cocaína que envolvem arguidos que supostamente obedeciam a ordens de Rúben Oliveira. A cocaína era introduzida em Portugal através de empresas importadoras de frutas e de outros bens alimentares e não alimentares, fazendo uso de contentores marítimos. A droga entrava também em malas de viagem por via aérea desde o Brasil até Portugal.

Indica igualmente a acusação que os arguidos recorriam a "sistemas encriptados tipicamente usados pelas maiores organizações criminosas mundiais ligadas ao tráfico de estupefacientes e ao crime violento" para comunicarem entre si.

Xuxas, apontado pelos investigadores como um dos maiores narcotraficantes portugueses, está em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto desde final de junho de 2022.

O juiz de instrução criminal Carlos Alexandre, em despacho instrutório de 29 de setembro passado, enviou os arguidos (16 pessoas singulares e três empresas) para julgamento, validando em larga medida a acusação do MP.

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