09 abr, 2024 - 08:13 • Anabela Góis , Olímpia Mairos
Dificilmente será possível erradicar as hepatites nos próximos anos. O alerta é deixado na Renascença pelo diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, nesta terça-feira em que arranca, em Lisboa, a Cimeira Mundial sobre Hepatite.
O principal objetivo é discutir e concretizar a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminar as hepatites até 2030. A doença mata mais de um milhão de pessoas por ano em todo o mundo.
Neste campo, Portugal está bem classificado graças à vacinação para hepatite B, tratamento da hepatite C e número de testes realizados. Todavia, o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, não acredita que seja possível erradicar as hepatites nos próximos sete anos.
“Acho difícil erradicar como aconteceu com a poliomielite ou com o sarampo, mas que é facto, e isso vai estar patente no Relatório Mundial da Organização Mundial de Saúde, é que o número de casos tem vindo a diminuir em todo o mundo. Em Portugal, também."
Segundo Rui Tato Marinho, “conseguiu-se controlar, por exemplo, a hepatite B com a tal vacina que desde 2000 é dada a todas as crianças que nascem em Portugal. E conseguiu reduzir-se muito o número de pessoas infetadas com hepatite C”.
“Agora, eliminar do tipo daqui a sete anos não haver nenhum caso de hepatite B ou C em Portugal eu não acredito, aliás, por outra razão: nós estamos a ter muita imigração de países de alto risco, como países africanos, ou asiáticos, onde há muitas pessoas com hepatite B ou C”, assinala.
Nestas declarações à Renascença, Rui Tato Marinho diz que “temos que ir à procura, temos que ir ao terreno temos que ir às prisões, temos que ir aos locais de consumo, temos de colaborar com os colegas da medicina geral e familiar e vice-versa”.
“Obviamente que há coisas a fazer, portanto, temos que ter atenção também, chegar aos imigrantes. E dar-lhes um bocado mais de saúde, facilitarmos o acesso ao diagnóstico e ao tratamento que não teriam nos países deles”, reforça.
O diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais recorda que as hepatites são problemas de saúde muito graves em alguns países.
“As hepatites, principalmente a hepatite B, a nível mundial é talvez o principal. Em segundo lugar a hepatite C são problemas de saúde pública muito graves em alguns países. Como são casos crónicos, que podem destruir o fígado e provocar a chamada cirrose e o cancro do fígado, morrem mais de um milhão de pessoas todos os anos por causa das hepatites mais do que a tuberculose”, assinala.
Segundo o especialista, são doenças evitáveis e “uma das medidas mais simples, ninguém fala nela, mas é das coisas mais importantes é que todas as crianças que nascem em Portugal façam a vacina da hepatite B”.
“Nunca mais vão ter hepatite B para toda a vida, ficam livres de uma doença potencialmente grave”, diz Rui Tato Marinho.
O especialista lembra, ainda, que “temos países, dos Camarões, da Mongólia, do Uganda, e outros, onde cerca de 10% da população tem hepatite B e, portanto, muitos deles vão morrer mais cedo, por exemplo, com cancro do fígado que é dos piores cancros do mundo.
Na visão de Rui Tato Marinho, Portugal tem feito um bom trabalho no conjunto das hepatites que são cinco: A, B, C, D e E.
“Temos vacinas, temos tratamentos, se for necessário transplante, faz-se transplante. Portanto, Portugal apesar de poder sempre melhorar, neste capítulo de hepatites acaba no panorama mundial, por estar bem”, conclui.