20 abr, 2024 - 23:58 • Marisa Gonçalves
Herdeira de um legado familiar relacionado com a história da democracia portuguesa, Daniela Salgueiro Maia, neta do capitão de abril Salgueiro Maia, entende que os ideais que levaram à Revolução dos Cravos deveriam ser mais valorizados na sociedade portuguesa.
“Na minha geração nem toda a gente sabe o que é o 25 de Abril. Sabem que há um feriado e pouco mais. O 25 de Abril não é assim tão estudado nas escolas básicas, do ensino público. O problema principal é lembrar os valores de Abril. O que foi feito e porque é que foi feito. Isso deveria ser uma coisa natural para as pessoas porque os valores de Abril são direitos humanos, são coisas básicas pelas quais devemos lutar. Não devemos ter como garantida a liberdade. Não passou assim tanto tempo desde a ditadura”, declara à Renascença.
Aos 21 anos, Daniela Salgueiro Maia diz que gostaria de ver “um país mais consciente, com mais educação, com mais saúde e onde as pessoas quisessem ficar”.
A neta do capitão que liderou as forças revolucionárias na madrugada de 25 de Abril de 1974 não chegou a conhecer o avô, mas afirma que procura seguir, na sua vida, as referências de pensamento que lhe são transmitidas na família.
Tinha 20 anos, era fotojornalista do jornal "O Séc(...)
“Eu vejo muito o meu avô mais no âmbito familiar, mais como avô, como pai e como marido do que propriamente como capitão, mas sempre com um olhar humano. Acho que ele era uma pessoa excecional pela sua personalidade humilde e pela forma como gostava de ajudar os outros. Quando ficou doente ele escondeu isso ao máximo da minha avó, para não a preocupar. Não queria colocar-lhe um peso. Outro exemplo de dignidade foi a forma como Marcello Caetano foi tratado na saída do Quartel do Carmo, o que mostra muito o tipo de carácter do meu avô. Tratar as pessoas sempre com dignidade é algo essencial”, diz.
Daniela Salgueiro Maia é estudante de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Católica. Questionada sobre qual seria a opinião do seu avô em relação ao atual contexto geopolítico, não tem dúvidas em afirmar que o homem que disse na madrugada da Revolução: “vamos acabar com o estado a que chegámos”, não estaria satisfeito.
“Honestamente, acho que ele estaria muito triste com o mundo no sentido geral, com tantos conflitos e tanto ódio sem fundamento. Estamos a mandar outra vez pessoas para a guerra. Isso seria algo que o entristeceria muito porque era estaria a ver o passado a acontecer outra vez”, sustenta.
Daniela Salgueiro Maia vai participar, este domingo, ao lado do presidente da Associação Salgueiro Maia - o capitão de Abril Coronel Andrade da Silva -, num passeio de bicicleta e pedonal em celebração dos 50 anos do 25 de Abril. A concentração está marcada para as 10h00, no Ecoparque de São João da Talha, numa organização da Junta de Freguesia de Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Bobadela, no concelho de Loures.
“Vamos também celebrar o Dia da Terra e a mobilidade. Associar estas celebrações ao 25 de abril é muito importante. Claro que aceitei o desafio e aceitaria uma e outra vez”, afirma.
António Gonçalves Pereira, presidente da Associação para Promoção Solidária da Sustentabilidade na Mobilidade Humana, e embaixador do Pacto Climático Europeu, diz à Renascença que “o evento tem também o objetivo aliar a sustentabilidade ambiental à vertente social, de uma forma inclusiva e que ajude a mudar procedimentos ambientais. Além disso é bom pensar na bicicleta como veículo de liberdade”.
À disposição dos participantes vão estar várias bicicletas elétricas. No percurso está prevista uma paragem na Quinta dos Remédios, em que os peões e os ciclistas se juntarão para uma conversa sobre os oceanos, a cidadania ativa e o Dia da Terra, que se celebra no dia 22.