07 mai, 2024 - 17:45 • Tomás Anjinho Chagas
Uma oportunidade, mas com riscos. O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) apresentou, esta terça-feira um livro branco sobre a inteligência artificial e as suas aplicações na área da saúde, no Parlamento. E grande parte dos peritos admite que há vantagens, mas que tudo precisa de regulamentação.
A presidente deste organismo, Maria do Céu Patrão Neves, destacou que esta tecnologia é "altamente disruptiva" e assumiu que na área da saúde há "benefícios evidentes a maximizar mas também com riscos inalienáveis a mitigar".
O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, marcou presença e assinalou que o Parlamento é o "sítio certo" para arrancar este debate pelo facto de esta ser uma tecnologia que não escolhe cores políticas.
"Isto é uma mudança de paradigma", começou por introduzir Rui Nunes, coordenador do Grupo de Trabalho do CNECV. O especialista assinalou a capacidade que esta tecnologia tem de aprender e perceber a linguagem humana, e por isso tem uma definição.
"É uma mistura explosiva para o bem, se não for usada para o mal", resume Rui Nunes, que vinca o perigo que a inteligência artificial pode trazer para a democracia. O perito, acredita, é que quanto mais se desenvolve esta tecnologia, mais difícil se torna de explicá-la.
A rematar, Rui Nunes desafiou o país a ser "inovador" e a promover o ensino de inteligência artificial nas escolas portuguesas.
Miguel Ricou, relator e membro do grupo de trabalho da reflexão ética ao Regulamento Europeu, fez uma intervenção sobre o impacto da inteligência artificial nas profissões de saúde e também para os doentes, e considera que a última palavra tem de ser sempre do médico.
"Há uma coisa que não podemos abdicar, enquanto profissionais de saúde, que é a responsabilidade da decisão", defende o clínico.
O relator acredita que a inteligência artificial pode ajudar em tarefas que tiram tempo aos profissionais de saúde e com isso disponibilizar tempo para os pacientes, mas também alerta para o perigo de se "sentir um afastamento" entre o médico e o paciente.
Inês Godinho, uma das relatoras, assinalou a importância da regulamentação como sendo uma forma de termos uma inteligência artificial "em que podemos confiar".
No mesmo sentido, Maria do Céu Patrão Neves ligou os dois discursos, defendendo que a regulamentação "vai no caminho de dar responsabilidade ao ser humano".
"Não vem substituir o que fazemos, vem complementar. A relação humana tem de manter-se", vincou a presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
Da plateia surgiu uma pergunta e uma provocação sobre o perigo de a inteligência artificial poder tirar empregos em todas as áreas, incluindo na área da saúde.
"O setor da saúde não vai ser exceção", assumiu Rui Nunes, que apela ao bom senso de quem tem o poder da decisão.
"Se continuarmos no paradigma de que tudo o que der mais lucro é o melhor, é evidente que as coisas têm tudo para não correr bem", avisa o especialista.