10 mai, 2024 - 07:30 • João Cunha
São gémeos, têm 12 anos. Nasceram prematuros extremos e, por isso, um deles tem alguns problemas de saúde. Foi-lhe diagnosticada displasia bronco-pulmonar e foi operado ao coração e ao esófago, quando era bebé. Faz tratamento psicológico.
Estavam ambos, na passada segunda-feira, na cantina da escola, em Caminha, para almoçar, quando um deles foi violentamente agredido.
"O meu filho estava à espera do almoço, com o irmão, gémeo, e uns colegas, sentados numa escada. Chegou um grupo, onde está esse agressor, de aproximadamente 17 anos, que lhe puxou as pernas escada abaixo, descendo os degraus de costas. E quando chegou ao fundo das escadas levou dois pontapés no pescoço, na garganta", explica Marcos Sterling, pai da criança agredida, que foi levada pelo INEM para o Hospital de Viana do Castelo.
O menino ainda não voltou à escola, tal como o irmão gémeo, "O agressor permanece no estabelecimento de ensino e os meus filhos têm medo", relata Marcos, que se queixa da passividade da escola.
"Ontem, recebi um telefonema da diretora do agrupamento, a perguntar como estava o meu filho e a saber se não íamos preencher os papéis de reclamação interna, sem os quais não poderia fazer andar o processo. Eu pedi desculpa, mas lembrei que a professora sabe da queixa que fiz às autoridades, sabe quem é o agressor, que é recorrente", e como tal, devia ter agido em conformidade.
A escola, aparentemente, nada fez, neste e num outro caso, há um ano, com uma outra criança, de apenas 5 anos, que era alvo de “bullying” dos colegas por ter um nome diferente do habitual, devido às suas origens. Como reação, a criança começou a ter mau comportamento escolar.
A mãe, que prefere o anonimato, garante que a criança "era colocada numa casa de banho ou numa sala, às escuras, de castigo". E que um certo dia, questionou o filho sobre a origem de arranhões e nódoas negras que tinha no corpo.
"As auxiliares apertavam-no e deixaram-lhe vários arranhões, com marcas das unhas. Outra agarrou-o pelas costas, à força, e ele ficou cheio de hematomas", relata esta mãe, que lamenta que não tenha havido ninguém na escola que tivesse falado com a criança para saber qual o motivo do seu mau comportamento.
"Antes de trabalhar numa escola há que estar preparado para lidar com todo o tipo de situações. O que o meu filho viveu traumatizou-o", queixa-se esta mãe, que na altura, apresentou
Depois da criança ter revelado a origem desses hematomas, a mãe agiu.
"Quando fui falar com a diretora do agrupamento, ela disse-me que ia contactar a professora e a auxiliar, para marcar uma reunião comigo. Só que a reunião foi adiada, alegando que tanto eu como a auxiliar em causa estávamos chateadas". Desde então, a reunião ainda não foi remarcada
Cansados do que dizem ser sucessivos casos de “bullying”, há já muito tempo, os pais e encarregados de educação vão hoje realizar uma vigília, a segunda esta semana, para denunciar a situação.
Elsa Freire, do Movimento de pais que organiza este protesto, não entende "a cultura de normalização da violência" que diz existir, em que "a criança é violenta, mas pede desculpa e fica tudo bem"
"Não pode ser assim. É um problema que tem de ser agarrado de raiz e não pode ser constantemente "tapado" e metido debaixo do tapete", exige Elsa Freire, que já tem um "caderno de encargos" a exigir junto da direção do Agrupamento.
"Aquilo que pedimos é que se olhe de forma atenta para a questão da violência em contexto escolar e atue sobre ela. Uma má atitude não faz uma má pessoa, e há aqui duas vítimas deste sistema: o agressor e o agredido. Porque o agressor também precisa de ajuda para deixar de ter este tipo de comportamentos".
Para isso, é necessário que a "escola abra o diálogo com os pais, que assuma que há violência e que, com os pais, trace um plano para trabalhar o tema, deixando de fazer de conta que não existe".
Contactada pela Renascença, a Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares diz ter tomado conhecimento da situação da agressão no Agrupamento de Escolas do Concelho de Caminha e não de um conjunto de ações de “bullying”, que "obrigariam à aplicação de medidas de proteção e de diminuição do risco muito mais exigentes".
Por escrito, o Ministério confirma a agressão desta semana e o cuidado hospitalar, "seguido de alta médica, decorrente do contacto acionado pela Diretora do Agrupamento de Escolas". Indica ainda que a GNR que se dirigiu à Escola e recolheu os dados do aluno agressor, para efeitos de participação da ocorrência e que foi aberto um procedimento disciplinar ao aluno em causa.
A Guarda Nacional Republicana, por seu lado, também confirma a existência de uma ocorrência de agressões no interior da Escola, entre menores. E que o caso foi devidamente comunicado ao Ministério Público, tendo sido elaborado o respetivo auto de notícia.
A Direção do Agrupamento também foi contactada pela Renascença para comentar as denúncias dos pais e os casos de agressões, mas até agora, não quis fazer comentários.