15 mai, 2024 - 13:44 • Carla Fino
Ana Jorge recusa as acusações de inação por parte da ministra do trabalho, Solidariedade e Segurança Social e mostrou-se indignada com as declarações de Maria do Rosário Ramalho. A provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia esteve esta quarta-feira a ser ouvida na Comissão Parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.
Logo na sua primeira intervenção, sobre a internacionalização dos jogos sociais e a situação financeira da instituição, Ana Jorge garantiu que “sempre serviu a causa pública com lealdade” e que, por isso, se sentiu “indignada perante as acusações” feitas pela ministra Maria do Rosário Ramalho.
Ana Jorge: "A Santa Casa não tem, praticamente, nenhum endividamento bancário"
“Rejeito que tenha atuado em benefício próprio e que me aumentei. Isso revela total desconhecimento do Ministério do Trabalho”, sublinhou a provedora exonerada. Além disso, defendeu que a mesa da Santa Casa (o equivalente a uma administração) sempre trabalhou para cumprir todos os compromissos financeiros.
Ana Jorge disse mesmo que entregou à ministra todos os documentos relativos às medidas avançadas pela Santa Casa, documentos entretanto pedidos pelos parlamentares da comissão. De resto, deixou claro que a instituição ainda tem problemas financeiros, mas garante que nesta altura não está endividada.
Aos deputados, a provedora exonerada recorda a primeira conversa com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que ocorreu no dia 12 de abril, e que considerou "simpática".
"Em determinada altura, manifestei à senhora ministra que estaria disponível para continuar nas funções de provedora, se ela assim o entendesse. E (a ministra) disse 'sim, sim", explica Ana Jorge. Nesta reunião foi abordado pela ministra Maria do Rosário Ramalho um plano de reestruturação: "Fizemos muitas medidas que estão aqui (nos documentos deixados no ministério). Então fez-me (a ministra) uma pergunta: 'Quantos vai despedir?' Eu respondi: 'Nenhum'. Isto foram duas vezes", lembra Ana Jorge.
Depois desta primeira reunião com a tutela, foi-lhe pedida uma listagem extensa de informação, mas que acabou por não ser suficiente. A provedora exonerada acabou ser afastada por email. "No dia 24 de abril, recebo um telefonema do chefe de gabinete (da ministra) a dizer: 'Veja com atenção o mail que lhe enviei', ao que respondi que tinha o computador aberto. E essa mensagem dizia que nós estavamos em gestão". Uma situação que, alertou Ana Jorge, "pode colocar em risco o orçamento para 2024".
A provedora exonerada sublinhou que sempre ocupou o cargo de forma honesta e enumerou todos os passos que foi realizando ao longo do seu mandato, desde logo a "redução da despesa", a suspensão de novas entradas, explicando que "por cada duas saídas, era contratado apenas um".
O final da audição foi dedicado à polémica sobre a internacionalização dos jogos sociais da Santa Casa, onde Ana Jorge defendeu que "manter a internacionalização seria comprometer a sustentabilidade financeira e o trabalho social". A provedora exonerada não poupou críticas à condução dos negócios que considerou duvidosos. Disse-se mesmo "pressionada" pelos anteriores gestores "que estavam quase todos os dias à porta, porque queriam mais dinheiro". E lembra que os dois gestores - Francisco Pessoa e Costa e Ricardo Gonçalves - em três anos, receberam 850 mil euros, montante cuja finalidade das despesas eram "duvidosas".