22 mai, 2024 - 23:08 • Redação
Unir a comunidade local e a comunidade imigrante através da empatia. Esta é a ideia de duas alunas universitárias que, para isso, criaram "Us and Them", uma exposição que incentiva a ouvir histórias sem ver rostos para combater preconceitos. “O intuito é de aproximar: nós, nacionais, e eles, pessoas imigrantes”, diz Rita Nery, uma das alunas do 3.º ano de Educação Social na Escola Superior de Educação do Porto, à Renascença.
A ideia do projeto surgiu da dificuldade de integração das pessoas migrantes em Portugal, “da distância entre a comunidade local e a comunidade imigrante”. “Acreditamos que se encurtarmos esta distância [entre nós e eles], teremos mais pessoas sensibilizadas para o tema e será mais fácil falar disso e, portanto, será mais fácil a solução”, acrescentou.
A exposição é móvel e interativa. Num primeiro momento, quem visita é convidado a ouvir as histórias das pessoas imigrantes, através da leitura de um QR code. De seguida, numa outra sala, poderão associar um rosto à história.
“Quando não tenho uma imagem e oiço uma história, estou a criar algo. Ao ouvir a história oiço a narrativa da pessoa, aquilo que é a identidade de quem fala: os seus gostos, os seus interesses, porque veio para Portugal, o que é que procura, quem é a pessoa. Ao associar o rosto à história percebemos que os estereótipos existem e que nos afastam do indivíduo, da história do indivíduo”, explica Rita Nery.
No final da exposição, os visitantes são convidados a deixar uma carta aos protagonistas das histórias. "Quem sabe, pode começar aqui uma bela amizade", afirma Rita Nery.
Os materiais da exposição são resultado de dois dias de workshop, onde as alunas, em conjunto com 12 pessoas migrantes e refugiadas, os rostos das histórias, discutiram questões de identidade e relataram experiências pessoais.
As denúncias partilhadas pelos migrantes nesses dias de trabalho, foram transformadas em cartas dirigidas à Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA), e estão agora em exposição.
Da exposição e dos dois dias de workshop surgiu a ideia de criar um balcão de denúncia. Uma plataforma online onde imigrantes e refugiados podem denunciar “experiências de exploração, de violação ou de discriminação" que tenham passado. Além disso, qualquer pessoa pode denunciar “experiências que tenha testemunhado”.
Depois de receberem as denúncias, em conjunto com outras organizações, nomeadamente o coletivo Humans Before Borders (HuBB), o objetivo é “tornar públicos” os dados quantitativos das denúncias.
O formulário está acessível em português, inglês, árabe, farsi, hindu, urdu, ucraniano e nepalês.
O projeto tem como mote a frase "Só te apaixonas pelas pessoas quando conheces a sua história”. Para Rita Nery é “uma forma de dizer que, independentemente da empatia que sentes por uma pessoa, há direitos que são fundamentais e que têm de ser assegurados”.
A exposição foi inaugurada, esta terça-feira, no Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim, onde vai estar até 24 de maio. Depois seguirá para a Escola Superior de Educação, onde estará de 27 a 31 de maio.