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Educação

A aventura de procurar casa em Lisboa quando se é um professor deslocado

25 jul, 2024 - 21:31 • Cristina Nascimento

“Joana” tem 25 anos e, ao segundo ano a dar aulas, conseguiu ficar efetiva na zona de Lisboa. O ano passado estava em Vendas Novas. Apesar dos preços mais caros, está contente por ter ficado efetiva em Lisboa pois tem melhores transportes para visitar a família no Norte do país.

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Falta cerca de mês e meio para começar as aulas, mas “Joana”, nome fictício, ainda não sabe nem em que escola vai dar aulas, nem onde vai viver.

Nasceu em Braga há 25 anos, estudou em Viana do Castelo e, no ano passado, estreou-se a dar aulas em Vendas Novas. Este ano já ficou efetiva, na zona de Lisboa.

“O concurso mudou e houve muitos professores contratados, com um, dois anos de serviço, que conseguiram já ficar no quadro, e isso é bom”, diz à Renascença. Mas não há bela sem senão.

“Onde é que ficaram colocados? Em Lisboa, no Alentejo e no Algarve que é onde há mais dificuldades em arranjar casa”, acrescenta.

Esta jovem professora já começou à procura de casa.

Primeiro pensou comprar, dado que é “provável que passe muitos anos em Lisboa, pois é onde há mais falta de professores”. “Joana” estava a contar com a ajuda do Estado para quem tem menos de 35 anos conseguir adquirir casa, mas conclui que a ajuda “não é nenhuma”.

“Essa ajuda é para quem compre uma casa com eficiência energética A ou A+. Casas com essa classe energética, em Lisboa, rondam os 300 mil euros. Ora, no banco pedem-me mil euros por mês e isso é quanto eu recebo”, explica com um riso miudinho.

“Acho que todos entendem que se eu estiver a dar mil euros por uma casa, não consigo comer, nem pagar transportes, mesmo que seja público, vamos fazendo as contas e vai dar saldo negativo”, acrescenta.

Joana procurou então um quarto. Até encontrou um a 500 euros, mas em “condições miseráveis”. E tinha um problema acrescido: “Eu tenho um cão e assim que sabem que eu tenho um animal, recusam.”

O plano agora passa por tentar juntar-se a outros professores deslocados e dividir “um T2 ou um T3, consoante o número de colegas que se juntar”.

“Alugando um T2 é mais fácil do que alugar um quarto”, diz Joana, embora admita que também não está a conseguir encontrar casas com dois quartos a mil euros por mês.

Mais caro, mas melhor em Lisboa do que em Vendas Novas

São ideias que vão passando pela cabeça e vai “vendo preços” para “se preparar”, mas até agora sem definição pois, apesar de saber que já ficou efetiva na zona de Lisboa, ainda não sabe em que escola vai ser colocada.

“Ficar efetiva em Lisboa tanto pode significar ser colocada numa escola em Sintra ou em plena Lisboa ou Vila Franca de Xira”, explica.

Apesar dos problemas em arranjar alojamento, “Joana” está contente por ter sido colocada em Lisboa. É que, apesar dos preços de alojamento serem mais caros, fica mais fácil conseguir ir a casa.

“Sempre que quiser ir a casa, tenho comboio, tenho vários comboios para chegar a Braga, tenho vários autocarros para chegar a Braga”, algo que no ano letivo passado, quando estava em Vendas Novas, era mais difícil.

“Joana” deixa a família no Norte. "Mas já estão habituados a que eu esteja longe”, conta. Quanto ao namorado, também a começar a vida profissional, no Norte do país, só vão conseguir ver-se uma vez por mês.

Apesar dos problemas e dificuldades, “Joana” diz ter sorte, pois dela só depende um cão. Esta jovem professora pensa nos colegas que já têm família constituída e que têm filhos a cargo. Além disso, reconhece que a procura de casa é uma aventura a que têm de estar sujeitos se querem ficar na profissão e “é por isso que muitos têm deixando" a docência.

“Eu arrisco porque, quem está dependente de mim, é o meu cão e ele vai comigo para todo o lado. Mas e quem tem filhos? Se forem do Norte e ficarem colocados no Algarve, como é que arranjam creche para os filhos?”, questiona-se.

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