27 ago, 2024 - 00:32 • Marisa Gonçalves
O Sindicato Independente dos Trabalhadores da Floresta, Ambiente e Proteção Civil (Sinfap) considera que as "decisões no combate ao fogo" na Madeira foram tomadas com base em "decisões políticas". O incêndio deflagrou durante 12 dias, sendo apenas dado como extinto esta segunda-feira.
No rescaldo do incêndio na ilha da Madeira, que lavrou durante mais de dez dias, o sindicato vem sublinhar a importância de os decisores políticos estarem bem munidos de toda a informação e conhecimento.
Em declarações à Renascença, o sindicalista André Morais diz que “muitas vezes, as decisões no combate ao fogo não são tomadas com conhecimentos científicos e específicos, mas sim em decisões políticas”, e entende que esse terá sido o problema na gestão do incêndio na Madeira.
“Notou-se uma certa apatia na tomada de decisão. As decisões, muitas vezes, têm de ser validadas pelo decisor político e acho que foi aí a brecha, na coordenação entre a direção política e a coordenação operacional que que fez com que nem tudo fosse positivo. Acho que a ocorrência numa fase inicial foi desvalorizada e depois, como em tudo, correr atrás do prejuízo nem sempre é fácil”, sustenta.
André Morais diz que o sindicato quer contribuir para “as melhores decisões políticas possíveis”, com base em conhecimento técnico, e “não quer entrar nas polémicas sobre eventuais pedidos de demissão”, mas alerta para a necessidade de serem tomadas decisões mais céleres.
O Sinfap garante que quer fazer parte da solução, para isso propõe criar uma equipa multidisciplinar para apoiar as intervenções de recuperação após o fogo, na ilha.
“Com uma visão de estabilização de emergência, a gestão de um plano florestal, a capacidade e a concentração de técnicas não invasivas para consolidação de solos, como a criação de aceiros. No pós-incêndio há a possibilidade de criar zonas tampão, reservatórios de água a montante, e plantar espécies nativas para a contenção de solos. Foi nessa ótica que pensámos desenvolver esta equipa multidisciplinar”, adianta.
O sindicalista especifica que tem pronta uma equipa composta por elementos especializados em florestas, gestão de emergência, climatologia e ordenamento do território e que está disponível para intervir numa vertente sem custos diretos porque o que queremos é que as autarquias e o Governo Regional tenham um apoio extra”, declara André Morais.
O sindicato fez a proposta via email, a todas as autarquias da Madeira e ao próprio Governo Regional, aguardando ainda por respostas concretas.
André Morais acrescenta que “o sindicalismo é muito mais do que uma crítica destrutiva”, defendendo que “pode fazer com que as autarquias e as autoridades regionais bebam um pouco de conhecimento para fazerem políticas públicas de proteção civil”.
O incêndio que deflagrou no dia 14 de agosto no município da Ribeira Brava terá consumido mais de 5.045 hectares, de acordo com dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais.