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Reportagem

Regresso às aulas. Inflação começa a dar tréguas, mas preços continuam a subir

05 set, 2024 - 10:13 • Redação

Clientes sentem que houve aumento nos preços do material escolar. Supermercados e papelarias afirmam que, pela primeira vez em alguns anos, os valores começaram a "estagnar".

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Setembro é sinónimo de regresso às aulas. Com mais um ano letivo a começar, há novas contas que têm de ser feitas. Livros e material escolar entram na lista das despesas adicionais deste mês e o movimento começa a fazer-se sentir nas papelarias por todo o país.

Entre cadernos, mochilas e livros escolares, eram muitas as famílias que, nas grandes superfícies em Vila Nova de Gaia, enchiam os carrinhos e ponderavam na hora de escolher um artigo para levar para casa. Para alguns, a conta pode chegar aos "200 euros", como é o caso de Alexandra Monteiro, 43 anos. "Os meus filhos vão passar a estudar em Gaia e a Câmara de Gaia dá vales. [...] Isso acabou por ajudar, ajuda sempre alguma coisa", afirma.

A encarregada de educação acabou por fazer um balanço do total gasto no material para os dois filhos.

Quem também andava a fazer contas à vida era Andreia Sousa, de 44 anos. Embora seja beneficiária do voucher oferecido pela Câmara Municipal de Gaia, uma ajuda da autarquia para as famílias comprarem material, revela que esta não deixa de ser uma "despesa pensada". "Algum material está mais ou menos 'ela por ela' em relação aos anos anteriores, mas há outras peças que acabam por estar um bocado mais caras", partilha.

Sara Costa, de 18 anos, estava a começar a comprar o material para a prima, ainda estudante. À Renascença diz já ter a noção de que o material escolar "é uma despesa que é real, que é muito pensada e, hoje em dia, cada vez mais". Samanta, de 46, também estava a iniciar o processo de compra com a filha e, ao deparar-se com os preços deste ano, revelou que vai recorrer a material dos anos anteriores para combater os gastos.

De uma forma geral, os clientes não sentiram um aumento significativo nos preços do material, mas acreditam que a procura por artigos mais específicos, pode leva-los a "gastar um bocadinho mais".

Mas se, por um lado, quem compra sente mais o peso na carteira, quem vende garante que, este ano, os valores estão mais acessíveis.

Quem o diz é Alexandre Guimarães, buyer e responsável pela secção de papelaria das lojas da rede MC, quando afirma que as famílias "este ano, a comprar a mesma tipologia de produto, vão gastar menos dinheiro que o ano anterior".

A explicação de Alexandre Guimarães passa pelo facto de não se verificar neste início às aulas "a inflação que existiu nos últimos anos".

Comerciantes apontam "redução de vendas a nível geral"

Em declarações à Renascença, vendedores do ramo de papelaria lembram a altura em que o regresso às aulas era sinónimo de casa cheia. "As pessoas faziam fila, tínhamos imensos alunos à procura das nossas lojas", recorda Ana Sá, de 59 anos. Funcionária na loja The Art Corner há quatro anos, trabalha diretamente na área da papelaria há 26 anos.

Lembra-se que, no passado, as famílias iam à loja com listas enormes e "gastavam 200 ou 300 euros no início das aulas com o material". Hoje em dia, nota que os clientes já "são mais ponderados" e afirma que, neste género de papelarias de rua, "já não existe essa procura por uma grande quantidade de artigos".

As papelarias mais convencionais passaram a ser o ponto de referência para quem apenas "procura algo muito específico". Partilha ainda que o negócio "começou a entrar em declínio" há cerca de dez anos e atribui a responsabilidade às "grandes superfícies", que começaram "a vender os mesmos produtos de uma forma mais económica". Como o volume de negócio é muito mais reduzido, já não conseguem concorrer contra eles.


Alexandre Guimarães confirma que o grande volume de negócio dos supermercados permite chegar rapidamente a mais públicos. Contudo, acredita que "cada um tem o seu espaço no mercado" e aquilo que mais atrai o cliente é uma "campanha bem estruturada".

O movimento começa a fazer-se notar por volta do mês de agosto, altura em que a papelaria ganha um papel de destaque face a todas as outras secções. "Conseguimos oferecer muitas categorias dentro de um único espaço", garante Alexandre Guimarães, sublinhando que é essa vasta oferta que lhes permite ter "uma visão 360 do regresso às aulas".

Mas essa realidade não existe em todo o lado. Em relação ao ano anterior, há papelarias que verificaram uma "queda na procura" durante o mês que antecede o início das aulas, como é o caso da centenária "Papelaria Modelo". De ano para ano, existe uma consecutiva "redução de vendas a nível geral", denuncia a sócia-gerente Magali Marinho.

Tal como Ana Sá, defende que os supermercados são o seu maior inimigo. Contudo, este género de loja continua a ter a sua devida importância no mercado. "As grandes estruturas vão acabar por ter o geral [...], mas depois tudo o que é mais específico não vão ter", afirma.

Conta que, atualmente, a loja se tem focado mais no material para ensino secundário e superior porque as listas são "cada vez mais específicas" e naquela papelaria ainda é possível comprar materiais "que não encontram em todo o lado".

Gerente e funcionários afirmam que, hoje em dia, quem entra na loja é o chamado "cliente de passagem" - aquele que, por acaso, passa e leva "algumas coisas" -, mas ainda têm alguns "clientes habituais", onde já lá comprou "o avô, o filho e agora os netos".

Durante os primeiros dias de setembro, o movimento pela procura das listas de material ainda não se fazia sentir, mas as "primeiras listas" já começavam a chegar. Primeiro chegam os colégios privados, depois as escolas públicas e, em outubro, aparecem as das faculdades.

Sobre se a procura vai aumentar ou diminuir, os comerciantes concluem que "ainda é um bocadinho cedo para fazer essa análise".

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