03 out, 2024 - 10:21 • João Cunha
O presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, anunciou na Renascença o despejo de 550 famílias residentes nos bairros sociais do concelho, por falta de pagamento.
O antigo vice-presidente da Câmara de Loures, Gonçalo Caroço, desmente o autarca socialista, que acusou a antiga gestão comunista liderada por Bernardino Soares de "fingir que não havia problema nenhum" com as dívidas dos inquilinos de habitação camarária.
Os residentes questionam o futuro dos que venham a ser colocados na rua e dizem que a autarquia podia preocupar-se também com os espaços verdes e a limpeza do bairro.
Depois de sair de um pequeno snack-bar no bairro social dos Terraços da Ponte, onde bebeu o primeiro café do dia, uma das moradoras admite saber de famílias, várias, que há muito não pagam as rendas das suas habitações. Contudo, diz, "saem de carro de casa todos os dias. E o carro é recente".
O que a preocupa são as famílias que não pagam rendas porque, mesmo sendo baixas, não têm dinheiro para as suportar.
"Se não conseguem pagar a renda do bairro social, como é que vai conseguir pagar lá fora?", questiona, antes de se dirigir para a rua de acesso ao fim do bairro, para apanhar um autocarro para o trabalho.
Também a caminho do trabalho, outra residente tem apenas uma questão: "Se despejarem vão pôr as pessoas onde, na rua? Não pode ser. Vão ter de resolver, não podem. Há pessoas com filhos, não vão deixar as crianças na rua".
Sentado nas escadas de acesso a um dos edifícios, um outro residente no bairro sabe que "há pessoas com renda acessível que deixaram passar uma série de tempo sem pagar". Mas também sabe que "outros tantos já fizeram um acordo com a Câmara e estão a pagar".
Aproveitando a ocasião, diz que gostava que a autarquia se preocupasse também com a limpeza do bairro e com os espaços verdes.
"Eles não fazem a limpeza completa do bairro. Tínhamos pessoal aqui mesmo do bairro que o fazia, mas mandaram-nos embora. Outros foram transferidos. E agora só vêm fazer limpeza às quartas-feiras", lamenta.
Quanto às habitações sociais, também gostava que lhe explicassem por que motivo um seu irmão, também guineense, não pode ficar uma temporada em sua casa.
"Já está aqui há uns tempos. Não sei que informação é que deram à Câmara, mas deram-nos dez dias para o tirarmos de casa. Todos nós temos família, mas nós não podemos receber ninguém em casa".
Do outro lado da rua, a despejar um saco de lixo num contentor já a abarrotar, outra moradora do bairro começa por explicar que é doente da coluna e que por isso não pode trabalhar. Vive do RSI, o rendimento social de inserção. Sabe que vai ser uma das primeiras a ter de abandonar a casa onde vive.
"Há 20 anos conheci um senhor e comecei a viver aqui com ele. Passado esse tempo, ele foi-se embora para Cabo Verde e não o consigo contactar. Não sabia se ele pagava ou não. Disse-me que sim, mas depois de ele se ter ido embora, fui à Câmara, que me disse que praticamente não havia pagamentos. Mas a Câmara deixou-me ficar, com a promessa de virem cá ver a situação. E cá estou, até ao dia em que me venham despejar", confessa. Esse dia parece estar cada vez mais perto.