03 out, 2024 - 15:41 • Lusa
O então responsável técnico da empresa arguida no caso da derrocada de uma estrada em Borba, no distrito de Évora, argumentou esta quinta-feira que não houve violação de regras de segurança na pedreira onde trabalhava.
"Considero que não houve violação das regras de segurança", disse o engenheiro geológico Paulo Alves, baseando-se no conhecimento que tinha da pedreira, da qual passou a ser responsável técnico em "finais de 2007, inícios de 2008", e nos seus mais de 20 anos de experiência profissional.
Nas declarações que fez perante o coletivo de juízes que começou esta quinta-feira a julgar o caso, o então responsável técnico da sociedade ALA de Almeida Limitada indicou que o Departamento de Geociências da Universidade de Évora elaborou, a pedido da empresa, diversos estudos técnicos desde 2008.
Os documentos atestaram que "o talude encontrava-se em situação de estabilidade adequada", frisou Paulo Alves, acusado de 10 crimes de violação de regras de segurança.
Antes, igualmente nas declarações ao coletivo de juízes, o vice-presidente da Câmara de Borba, Joaquim Espanhol, disse ter participado numa única reunião de câmara com a presença de uma especialista, em 2014, em que foi abordada a segurança da Estrada Municipal (EM) 255.
Desse encontro, alegou ter saído "com a convicção de que era uma estrada perigosa, mas não em perigo de ruir", ou seja, esse perigo estaria relacionado com questões de trânsito e de acidentes de viação e não com uma eventual derrocada.
Ao longo da sua intervenção, Joaquim Espanhol, que está acusado de três crimes de homicídio por omissão, repetiu, por diversas vezes, que a EM255 era uma competência atribuída ao presidente da câmara.
O mesmo já tinha sido dito em tribunal pelo presidente da autarquia, António Anselmo, que chamou a si toda a responsabilidade "quer para o bem, quer para o mal" do que acontece no município.
Já a procuradora do Ministério Público sustentou que o vice-presidente tinha os pelouros que abrangiam competências de fiscalização da estrada e que as câmaras municipais, por lei, têm a competência administrativa de fiscalizar as pedreiras.
O advogado dos autarcas, Silvino Fernandes, questionou-os sobre quando tiveram conhecimento sobre a existência de relatórios técnicos da Universidade de Évora e do Instituto Superior Técnico em relação ao talude da pedreira junto à estrada que ruiu, tendo ambos assegurado que só souberam depois do acidente.
Reportagem em Borba
Seis anos depois dos factos, começa o julgamento q(...)
Na tarde de 19 de novembro de 2018, um troço de cerca de 100 metros da Estrada Municipal 255 (EM255), entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, ruiu devido ao deslizamento de um grande volume de rochas, blocos de mármore e terra para o interior de duas pedreiras.
O acidente causou a morte de dois operários de uma empresa de extração de mármore na pedreira que estava ativa e de outros três homens, ocupantes de duas viaturas que seguiam no troço de estrada e que caíram para o plano de água da pedreira sem atividade.
Em paralelo, o Estado intentou uma ação administrativa no Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja para reaver mais de 1,6 milhões de euros pagos em indemnizações às famílias das vítimas.