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Caso BES

Queiroz Pereira. "Ricardo Salgado era um ambicioso desmedido, capaz de matar pai e mãe"

22 out, 2024 - 10:44 • Diogo Camilo

Líder da Semapa foi dos primeiros a alertar para os problemas nas contas do Grupo Espírito Santo. No depoimento ao Ministério Público - feito em 2018, meses antes de morrer - conta como “ninguém se atrevia a beliscar” o presidente do BES.

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Pedro Queiroz Pereira descreveu Ricardo Salgado como um “mentiroso compulsivo” e um “ambicioso desmedido” que era “capaz de matar o pai e a mãe”, durante o seu depoimento do caso BES em 2018.

O testemunho do antigo líder da Semapa, que foi um dos primeiros a alertar para o buraco nas contas do Grupo Espírito Santo (GES), está a ser ouvido esta terça-feira no julgamento do caso BES, no Juízo Central Criminal de Lisboa.

No depoimento, feito meses antes da morte do empresário - a bordo do seu iate, em Ibiza, na sequência de uma queda de dois metros -, Pedro Queiroz Pereira diz conhecer “as razões por que tudo isto aconteceu”.

Começando por falar na intervenção política de Mário Soares, então primeiro-ministro para “privatizar o BES” e “entregar o banco à família Espírito Santo”, PQP - como era conhecido - refere que o GES recupera-se “com muitas dificuldades financeiras” e ao mesmo tempo que morre o seu chairman, Manuel Ricardo Espírito Santo.

Para Pedro Queiroz Pereira, nessa altura o “lado mais banqueiro da família perdeu a liderança”. Tomou a presidência António Luís Ricciardi - “um bocadinho uma múmia”, como lhe chamou -, uma decisão “completamente conveniente”, segundo o empresário, para que “Salgado fizesse tudo o que entendesse sem oposição”.

“Conheço o doutor Salgado há muitos anos. Era um ambicioso desmedido, capaz de matar o pai e a mãe”, diz Queiroz Pereira. Mais tarde no depoimento esclarece à procuradora Cláudia Ribeiro que “não era propriamente amigo” do ex-presidente do BES.

"Eu não sou propriamente amigo do doutor Ricardo Salgado, como já deve ter percebido, nem quero saber dele.”

Queiroz Pereira fala também do poder de persuasão de Ricardo Salgado, referindo que “ninguém se atrevia a beliscar” o chairman do GES e que era “o único capaz de controlar o grupo”.

“Ele é capaz de chegar aqui e dizer que esta folha de papel [aponta para uma folha completamente branca] é preta. E convencer-se e convencer os outros. É o caso gritante de uma pessoa que diz coisas e convence o interlocutor dessa coisa. É uma coisa espantosa”, disse à procuradora do Ministério Público.

O empresário fala ainda da primeira vez em que alertou para problemas nas contas do Grupo Espírito Santo, numa reunião do Conselho Superior a 13 de dezembro de 2012 - mais de um ano e meio antes da queda do GES e do BES.

"Sabia que as coisas estavam mal. O que me revoltou mais foi que andavam a comprar os meus acionistas e não tinham dinheiro. Não tinham dinheiro e estavam a comprar o meu grupo. Sabia que as coisas estavam mal porque estavam a consolidar mal as contas", disse.

"Os governadores mudam". A ameaça ao Banco de Portugal

Queiroz Pereira falou ainda de como Ricardo Salgado e quem administrava o BES pensavam que "mandavam no país", revelando ameaças do líder do Grupo Espírito Santo a governadores do Banco de Portugal.

"Ele chegou a dizer a governadores [do Banco de Portugal]: 'eu estou cá há muitos anos, os governadores mudam'", disse o ex-empresário no seu testemunho, acrescentando: "Assim como quem diz: ' vê lá se tenho de falar com alguém para te tirar'. Era de uma prepotência desmedida".

A testemunha refere ainda a quezília na sua família provocada pela família Espírito Santo, indicando que o GES comprou a posição da sua irmã na Semapa em 2001, mas que Salgado não lhe disse nada para "se ir apoderando do grupo". Essa compra da posição foi feita, segundo Queiroz Pereira, através de uma offshore com ações do banco.

"Desde essa altura que não tinha confiança nenhuma. Fingia que não sabia de nada, mas sabia. Só faltava comprarem-me a outra irmã. Fui à procura de números para mostrar que estavam a fazer isto sem dinheiro. Era uma vigarice completa", indicou na altura ao Ministério Público.

A sessão do julgamento do processo BES/GES agendada para esta terça-feira no Juízo Central Criminal de Lisboa será marcada ainda pela inquirição do banqueiro Fernando Ulrich.

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