23 out, 2024 - 16:30 • Ana Kotowicz
"Tolerância zero." Será assim que a PSP irá responder a qualquer ato de violência ou de desordem. Neto Gouveia, diretor nacional adjunto da PSP, deixou claro qual será o caminho a seguir pelas forças de segurança e, em conferência de imprensa, apelou à calma.
De resto, e sobre a morte do cidadão baleado por um agente da PSP na Amadora, não fez mais comentários, frisando que o caso "está em segredo da justiça".
Neto Gouveia, em substituição do diretor nacional da PSP, deixou uma "nota de pesar" aos amigos e família da vítima, Odair Moniz, e esclareceu que esta polícia esta a trabalhar "em uníssono" com outras forças de segurança.
"É importante salientar que repudiamos e temos tolerância zero com qualquer ato de desordem e de destruição", disse o comandante da PSP, e que partem "de grupos criminosos". Por isso, fez um apelo, "à semelhança do que já foi feito" pelo Presidente da República, "à calma e à tranquilidade públicas".
Neto Gouveia deixou ainda dois avisos: tantos as manifestações violentas como o incitamento a elas são ilegais e terão consequências.
Aquilo a que se assistiu nos últimos dias, "não é um ato de manifestação legal, é ilegal, contraria a lei", e, além disso, "prejudica os demais cidadãos que vivem nos locais afetados".
O Presidente da República falou em direto para vár(...)
A violência, embora tenha o seu lado visível nas ruas da Grande Lisboa, também tem tido origem nas redes sociais. Por isso mesmo, explicou, e porque "o incitamento é crime", as redes sociais estão "a ser monitorizadas para que os responsáveis possam ser responsabilizados criminalmente".
No final da sua declaração, Neto Gouveia prometeu um reforço do policiamento nas ruas para garantir que "as pessoas de bem têm a sua tranquilidade" assegurada.
Nas próximas horas "várias dezenas de indivíduos estão prestes a serem identificados no âmbito das investigações em curso". A informação foi prestada por Luís Elias, comandante do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis), na mesma conferência de imprensa, onde fez o balanço das ocorrências.
Assim, além das três detenções que já eram conhecidas, o comandante anunciou que dezenas de pessoas poderão vir a responder criminalmente por "incitamento à prática de crimes nas redes sociais".
Quanto ao balanço, Luís Elias falou em 60 ocorrências de desordem e incêndio em imobiliário público, 2 agentes da polícia feridos, 2 viaturas da polícia danificadas — uma delas atingida com armas de fogo —, 2 autocarros da Carris roubados e incendiados, 1 motociclo incendiado, 2 cidadãos agredidos e diversos caixotes de lixo e imobiliário urbano destruídos e queimado.
Em seguida, Luís Elias fez o filme do sucedido na noite de 21 de outubro, a primeira que ficou marcada por desacatos, e que se prolongaram pela noite e madrugada de terça-feira, 22 de outubro.
Segundo o comandante, a partir das 20h30 de segunda-feira surgiram os primeiros focos de incêndio no Bairro do Zambujal e foram acionados corpos de bombeiros para o local. "Como estavam a ser agredidos, fomos em auxílio", esclareceu, mas as forças de segurança acabaram por também ser vítimas de agressão.
"Tivemos de entrar com o apoio da Unidade Especial da Polícia no bairro", disse Luís Elias. "Houve recebimento hostil" e foram atiradas pedras da calçada aos agentes da polícia. Ao longo da noite, houve "robustecimento de meios" e a PSP recorreu ao uso de drones para vigilância e juntar provas.
"Ontem [22 de outubro], depois das 15h00, houve uma manifestação não comunicada no interior do Bairro do Zambujal", disse o comandante. O protesto começou por ser pacífico, mas, por volta das 18h30, deram-se os incidentes de roubo de autocarro e incêndio.
Daí em diante, houve a deflagração de vários incêndios em diferentes locais. A polícia criminal, esclareceu o comandante da PSP, foi chamada aos locais dos incidentes mais graves — dos autocarros incendiados e do carro da polícia baleado — para fazer perícias.
No final da conferência de imprensa, já durante as perguntas dos jornalistas, Neto Gouveia contrariou as teses de que os agentes não estariam preparados para lidar com o incidente, que culminou na morte de um cidadão. "Os elemento policiais foram formados, como todos os outros" e, tendo "a formação base da escola prática, podem atuar em todo o território".
Desacatos em Lisboa
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A ideia de que a idade dos agentes poderia ter influenciado os acontecimentos, foi também posta de lado. "Serem mais novos ou mais velhos não determina a sua capacidade de patrulharem" áreas mais ou menos críticas.
Os familiares da vítima acusaram a PSP de ter entrado dentro de suas casas, uma acusação que o diretor-geral em substituição refuta. Os agentes "nunca entraram dentro de nenhuma residência forçada por parte da PSP", disse Neto Gouveia que, exaltado, se queixou do ruído que se tem criado à volta deste assunto.
Ninguém ficou ferido em resultado deste incidente (...)
De resto, voltou a insistir que a tranquilidade é necessária. "O que temos ouvido dos habitantes do bairro é que querem paz. É inadmissível que, em determinadas zonas, as pessoas de bem se sintam reféns de uma minoria de criminosos."
A conferência de imprensa acontece depois dos desacatos em vários locais de Lisboa e Setúbal durante a última noite e a madrugada, durante os quais dois cidadãos foram esfaqueados e dois polícias apedrejados. Os incidentes acontecem como resposta à morte de um cidadão, baleado pela polícia, no bairro do Zambujal, na Amadora.
A versão da PSP e dos populares são contraditórias. No imediato, o polícia que baleou o homem — que, segundo a PSP, terá resistido à detenção e ameaçado os agentes com uma arma branca — foi constituído arguido. A IGAI já abriu um inquérito sobre o sucedido e a ministra da Administração Interna garantiu que a polícia tudo fará para levar à justiça quem participou nos tumultos.