28 out, 2024 - 08:00 • Anabela Góis , Olímpia Mairos
A Assembleia da República acolhe esta segunda-feira a conferência “Obesidade. É tempo de agir”. Organizada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade e a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, a iniciativa visa sensibilizar os decisores políticos para a urgência de tomarem medidas concretas para combater a obesidade.
Em Portugal, 67,6% da população tem Excesso de Peso ou Obesidade, sendo que a prevalência da Obesidade é de 28,7%, segundo os mais recentes estudos, e a tendência é para piorar. As projeções indicam que em 2030 o excesso de peso vai provocar mais mortes (11,99%) no nosso país do que o tabagismo.
Para o presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, José Silva Nunes, “o caminho tem de passar pela acessibilidade aos cuidados de saúde, seja de consultas específicas, com profissionais habilitados a tratar a doença, mas também pelo acesso a todos os pilares que, à luz do conhecimento atual, fazem parte do tratamento. Ou seja, intervenção nutricional, atividade física, abordagem terapêutica, farmacológica, e, para casos especiais, o tratamento cirúrgico da obesidade”.
Entre 2014 e 2022 a percentagem de utentes com registo de obesidade mais do que duplicou nos Cuidados de Saúde Primários. José Silva Nunes destaca que “sobretudo na região sul, faltam profissionais de nutrição nos centros de saúde, para que possa ser implementada uma abordagem multidisciplinar, como é desejável no tratamento da pessoa com obesidade”.
Outra falha, apontada pelo responsável, prende-se com a dificuldade que os doentes têm em aceder à terapêutica farmacológica.
“Os medicamentos para tratamento obesidade são caros para a maior parte da população portuguesa e, portanto, quem tem dinheiro consegue fazer uso de todos os pilares todos do tratamento. Quem não tem, fica amputado de um dos pilares fundamentais”, assinala, acrescentando que “falhando uma arma fundamental, nesta patologia a taxa de sucesso afasta-se muito dos 100%”.
José Silva Nunes, que é responsável por duas consultas no hospital Curry Cabral, em Lisboa, conta à Renascença que “a maioria dos doentes” a quem propõe terapêutica farmacológica, “desiste porque é totalmente incomportável adquirir os fármacos”.
Nos hospitais a situação também está longe de funcionar bem: No hospital Curry Cabral, por exemplo, “a lista de espera é grande tanto para a consulta destinada a tratamento não cirúrgico como para o tratamento cirúrgico da obesidade”, diz José Silva Nunes, sublinhando que no primeiro caso pode ultrapassar um ano, e no segundo são pelo menos dois.
Para os casos mais graves da doença, que necessitam de cirurgia, “há cerca de 20 centros a nível nacional que fazem entre duas a três mil cirurgias por ano”, infelizmente, – explica – “muitos fazem muito poucas, sobretudo, por falta de recursos humanos, nomeadamente, anestesistas”.
É o que acontece no Curry Cabral que “consegue assegurar 200 a 300 cirurgias quando, por exemplo, o hospital de São João, no Porto faz três vezes mais, cerca de mil por ano”.
Na prática “só um centro hospital assegura dois terços do total de cirurgias, o que deixa muitos doentes à espera” desabafa.
José Silva Nunes insiste que muitos doentes que sofrem de obesidade não precisariam de chegar a esta última fase se os Cuidados de Saúde Primários dessem resposta e, sobretudo, se os medicamentos fossem acessíveis a todos os portugueses.
De acordo com o estudo do Custo e a Carga do Excesso de Peso e Obesidade, os custos diretos estimados da doença são de 1.1 mil milhões de euros, o que equivale a 0,6% do PIB e a 6% das despesas de Saúde em Portugal.