29 out, 2024 - 07:57 • Redação
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a doença que mais mata em Portugal. Em média, são registados 30 mil novos casos todos os anos e um em cada três doentes acabam por falecer.
O membro da direção da Sociedade Portuguesa do AVC, Vitor Tedim Cruz, revela à Renascença que a adoção de medidas de prevenção podiam ter evitado 80% dos casos. Segundo os dados mais recentes, cerca de 200 mil pessoas ainda "vivem condicionadas pelo facto de terem tido um acidente vascular cerebral".
Na sua visão, a principal causa para este elevado número de casos pode estar entre duas possibilidades, uma modificável, outra nem tanto: o envelhecimento da população ou a "mudança do perfil dos fatores de risco".
Se a população levasse a cabo todas as medidas de prevenção, 8 em cada 10 casos detetados podiam ter sido evitados. Para Vitor Tedim Cruz, o grande impulsionador dessa mudança são os "estilos de vida distintos que acumulamos ao longo da vida".
Para a Sociedade Portuguesa do AVC, controlo devia ser palavra de ordem quando se trata desta doença, que se pode revelar muito complexa tanto na deteção como na recuperação. "Muitas vezes nós damos a prevenção como algo garantido e fácil, mas não é", afirma o profissional de saúde.
Hipertensão, tabagismo, sedentarismo e consumo excessivo de álcool fazem parte dos fatores modificáveis e que têm um impacto significativo na ocorrência do AVC.
O especialista alerta ainda para o crescimento do número de casos nas faixas etárias mais jovens, que "começam a ter riscos mais elevados para AVC do que tinham antes".
Quando o AVC acontece, a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é crucial porque "quase todo o tratamento e prevenção do acidente vascular cerebral depende maioritariamente" dos serviços de saúde pública.
Após o episódio, segue-se um período de "reabilitação contínua" que, nos casos mais graves, pode chegar a um ano de um "processo dinâmico" e intenso de cuidados contínuos.
"O primeiro mês pode ser num hospital de agudos. Depois, vão passar três meses numa unidade de reabilitação especializada em acidentes vascular cerebral. Depois, tem que passar mais três meses noutro tipo de unidade de transição até chegar a casa", conta Vitor Tedim Cruz.
No entanto, o financiamento desta recuperação a longo prazo revela-se um desafio económico para as famílias portuguesas. Embora o SNS cubra os cuidados iniciais e parte do processo de reabilitação, muitos dos custos adicionais acabam por recair sobre as famílias depois da terceira semana de internamento. Esta situação pode-se revelar um risco para a interrupção da recuperação do doente.
"Qualquer situação pode interromper a continuidade dos cuidados, e sempre que é interrompida, demora sempre ali um mês a retomar". Vitor Tedim Cruz fala sobre o desenvolvimento da "via verde do AVC", que garantia assim uma maior segurança nos cuidados contínuos e aliviava também a pressão financeira nas famílias.
Ao promover estilos de vida saudáveis e ao assegurar uma recuperação acessível e completa, Vitor Tedim Cruz diz que é possível que Portugal estagne a tendência de aumento de casos de AVC.