29 out, 2024 - 10:40 • João Cunha
Sai de casa carregada com dois grandes sacos do lixo, um deles só com cartão, que é depositado no respetivo contentor. Depois de ajeitar a mala e fechar o casaco, porque o vento sopra frio, revela dois pedidos que faria ao Governo de Luís Montenegro.
“Uma escola boa para os meninos, e que ninguém nos discrimine pela nossa cor”, pede esta residente no Zambujal.
“Nós somos seres humanos igual a qualquer um, seja branco, preto, a cor que for. A cor não interessa, o que interessa é o interior das pessoas”, assegura, sublinhando que “o Governo sabe que quem ali vive não merece ser discriminado”.
O problema, diz, são os que não têm funções governativas, mas que anseiam lá chegar. “Os portugueses não são maus, são boas pessoas, porque ajudam. Mas há pessoas que, por abrirem a boca, estragam tudo. O Ventura, se chegar lá, não sei o que será de nós”.
Mais abaixo na mesma rua, numa pastelaria, outro morador toma o primeiro café da manhã, antes de ir para o trabalho. Mexe o açúcar, bebe e sai para a rua, onde puxa de um cigarro. Entre passas, revela que gostava que nesta reunião com o Governo alguém lembrasse a falta que faz a Academia do Johnson: um projeto de responsabilidade social que trabalha com crianças e jovens do bairro.
“Era uma associação que estava aí, que era chamada Academia do Johnson. Ele faleceu e a fundação nunca mais funcionou como deve ser. Era influente na educação dos miúdos”, explica, enquanto outros miúdos lá vão, aos poucos, saindo de casa para iniciar mais um dia de aulas.
No meio de um grupo de crianças, há quem deixe um conselho ao executivo de Montenegro: “Era ensinar os policias a trabalhar nestes bairros, para que o que aconteceu não volte a acontecer.”
Residente no bairro há mais de 40 anos, esta residente deixa ainda outro pedido às autoridades: que mantenham a recolha bissemanal do lixo, porque antes dos tumultos, só o faziam uma vez por semana.
Na reunião desta tarde, convocada pelo Governo, estarão presentes, além dos representantes das associações de moradores de vários bairros, os ministros da Presidência, da Administração Interna e da Juventude e Modernização, bem como dirigentes das polícias, do Instituto Português do Desporto e da Juventude e da Agência para a Integração, Migrações e Asilo.
Reportagem
A Renascença recupera uma reportagem feita em 2016(...)