29 out, 2024 - 00:02 • Fátima Casanova
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O Governo adotou “medidas de urgência que não resolvem o problema” da falta de professores, diz à Renascença o antigo ministro David Justino, do EDULOG, o "think thank" para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.
A falta de professores vai acentuar-se já em 2026 e Portugal pode chegar ao final da década com 24 mil professores em falta, indica o estudo EDULOG, divulgado esta terça-feira.
Segundo a investigação “Reservas de Professores sob a lupa: antevisão de professores necessários e disponíveis” a falta de professores habilitados vai piorar todos os anos, abrangendo a generalidade das disciplinas, com especial incidência no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário.
Para que se possam enfrentar os desafios identificados, o estudo propõe a implementação de políticas públicas que tornem a profissão de professor mais atrativa e que integrem, por exemplo, incentivos financeiros, melhorias nas suas condições de trabalho e oportunidades de progressão na carreira que poderão ajudar a reverter o desinteresse pela profissão e o eventual regresso daqueles que, entretanto, abandonaram a profissão.
À Renascença, David Justino, membro do conselho consultivo do EDULOG, admite que o Governo já tomou algumas medidas, que considera de “urgência”, que “apenas atenuam um bocadinho o problema”, sem o resolver.
Estudo EDULOG
Estudo do EDULOG alerta que se não forem tomadas m(...)
O que é preciso fazer, defende é “dignificar, valorizar e, de certa forma, remunerar o papel que os professores têm na sociedade e dentro do sistema de ensino de forma a que a profissão seja atrativa”.
O antigo ministro da Educação sublinha que também é preciso “fazer uma melhor gestão dos recursos, que estão disponíveis, ou seja, como não se consegue formar professores de um dia para o outro, vamos precisar de quatro ou cinco anos, temos de tomar outras medidas de forma a ajustar as necessidades à disponibilidade de professores”.
David Justino dá como exemplos medidas “ao nível da gestão da rede e da oferta de cursos, em especial no 3.º Ciclo e fundamentalmente no Ensino Secundário”.
Para fazer face ao problema da falta de professores de forma mais imediata, David Justino admite que “custa dinheiro”, ainda assim, sugere que se for possível “uma vinculação mais rápida, pode ser mais atrativo”. Aponta também a necessidade de se arranjarem “condições relativamente à mobilidade dos professores entre as várias zonas do país, no acesso à habitação a custos mais razoáveis e de transportes”.
As recomendações do EDULOG passam também por aumentar o número de vagas nos cursos de formação de professores, especialmente em áreas críticas, como História, Matemática e Informática.
David Justino considera que “a falta de formação verificada nos últimos anos, a elevada rotatividade da profissão, o envelhecimento da classe docente e o desequilíbrio de alguma oferta de ensino, que faz com que professores assegurem turmas com um reduzido número de alunos, contribuem para a situação atual de falta de docentes”, que tal como o estudo do EDULOG mostra, vai acentuar-se em 2026 e em 2031 vão faltar professores praticamente a todas as disciplinas, especialmente no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário.