15 nov, 2024 - 06:30 • Anabela Góis
Os custos com medicamentos estão a aumentar cerca de 10% ao ano, de acordo com o Índex Nacional de Acesso ao Medicamento, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), divulgado esta sexta-feira. Em muitos hospitais já representam quase metade da fatura total.
Em muitos casos, esta fatura representa quase metade do orçamento, diz à Renascença o presidente da APAH, Xavier Barreto.
“Os hospitais gastam mais porque tratamos mais doentes, fazemos mais cirurgias, mais consultas, tratamos mais cancro. Os doentes sobrevivem por mais anos, no cancro, no HIV, em várias patologias que são grandes consumidoras de medicamentos. E, por outro lado, porque temos fármacos mais inovadores e que, geralmente, são mais caros”, explica.
Tudo isto junto “leva a um aumento muito significativo dos custos com medicamentos hospitalares. Nos últimos anos tem aumentado acima de 10% ou à volta de 10%. Em muitos hospitais quase metade dos custos já são com medicamentos”, indica Xavier Barreto.
As três principais áreas terapêuticas responsáveis pelo aumento dos custos são a Oncologia, os Anti-infeciosos/HIV e a Reumatologia.
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Mas são custos podiam ser reduzidos se os hospitais tivessem mais farmacêuticos e técnicos superiores no circuito do medicamento, sublinha o presidente da APAH. Um total de 97% dos hospitais referem falta de recursos humanos nesta área.
“Se nós não temos farmacêuticos, se nós não temos técnicos superiores, juristas e outros da área financeira que ajudem a melhorar o circuito do medicamento, obviamente que isso se traduz em custos que não deveríamos ter e numa perda de eficiência por parte dos hospitais. É um investimento que faria sentido que fizéssemos, até porque é custo efetivo. Existe evidência de que contratar um farmacêutico para que ele possa apoiar melhor o circuito do medicamento, para nós comprarmos melhores medicamentos e utilizarmos os melhores medicamentos para cada doente, traduz-se em poupanças para os hospitais”, diz Xavier Barreto.
A esmagadora maioria dos hospitais (93,1% ) relatam rupturas de medicamentos e consideram que é um problema grave, que afeta todo o tipo de fármacos. Em 2022 eram 94,4%, segundo o Índex Nacional de Acesso ao Medicamento.
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Xavier Barreto garante, no entanto, que o tratamento dos doentes não fica em risco: “Na maior parte dos casos ou até na totalidade são situações resolvidas, ou por empréstimo de outros hospitais ou porque se encontra uma alternativa terapêutica. Estas rupturas são resolvidas e não têm, de facto, um impacto na saúde do doente ou nos resultados do doente”.
Outro problema relatado pelos hospitais (86,2%) prende-se com o excesso de burocracia no acesso a medicamentos inovadores.
“Os hospitais reportam-nos, por exemplo, que a carga administrativa é um problema, quer no processo de compra dentro do hospital, porque é um processo moroso e padece da falta de recursos humanos, nomeadamente de técnicos. Mas também porque no caso dos medicamentos mais caros obriga a autorizações externas, por exemplo, do Tribunal de Contas, o que acaba por atrasar ainda mais o processo”, diz Xavier Barreto.
E, portanto, “tudo isto resulta, numa barreira no acesso aos fármacos inovadores”, sublinha o administrador hospitalar, nestas declarações à Renascença.