26 nov, 2024 - 19:12 • Tomás Anjinho Chagas
Quase em coro, as associações de produtores de agropecuária em Portugal acreditam que o país reagiu tarde ao vírus da língua azul.
Dezenas de pessoas foram ouvidas esta terça-feira no Parlamento, na Comissão de Agricultura e Pescas, e lamentam que se tenha demorado tanto tempo a dar resposta a este problema que já matou milhares de ovelhas e borregos em Portugal. O vírus afeta vários países na Europa, em Espanha já há serotipos que ainda não chegaram cá.
A Associação de Agricultores do Sul (ACOS) faz recolha de cadáveres de animais de pequeno porte e lembra a chegada deste outono: "Estávamos em outubro e, de repente, os pedidos de recolha não duplicaram nem triplicaram, foram cinco ou seis vezes mais", relata Rui Manuel Garrido, da ACOS.
Milhares de animais já morreram, e a Associação de Agricultores do distrito de Portalegre (AADP) culpa também a Direção Geral de Alimentação e Veterinária por ter demorado demasiado tempo a permitir a chegada das vacinas aos produtores.
"Julgo que houve muita lentidão na atuação da DGAV, entrou num processo burocrático que levava mais de 15 dias em que os produtores não dispunham da vacina", atira António Pinheiro, vice-presidente desta organização.Os produtores queixam-se e dão o exemplo do país vizinho, Espanha, onde as vacinas contra a língua azul chegaram mais rápido.
"Foi muito mau o que aconteceu, acho que se tapou o sol com a peneira. Esperou-se que o Inverno viesse mais cedo e que fossem meia dúzia de pessoas que se andavam a queixar", lamenta Ana Matias, que falou em representação da Associação dos Agricultores do Litoral Alentejano (AALA).Além de matar muitas das ovelhas infetadas, o vírus da língua azul está também a levar a muitos abortos, e alguns produtores falam em taxas de 60% de aborto. Desta forma não conseguem repor os animais que perderam para a doença.
A Associação de Criadores de Gado do Algarve (ASCAL) dá o exemplo de uma consequência para o consumidor final: "Todos vocês que aqui estão, quando vier a Páscoa, podem correr o risco de comer não um borrego português e alentejano, mas alguma coisa que vem da Nova Zelândia ou de outro país", alerta o presidente da associação, Afonso Nascimento.
Os produtores pedem prevenção para evitar uma nova crise no próximo ano e alertam o governo que precisam de apoios. Só que para esses apoios, é necessário ser proprietário de um certo número de cabeças de gado e como muitos animais morreram, os apoios podem estar em riscoA Comissão Nacional de Agricultura admitiu que é provável que esta crise possa provocar um aumento dos preços para o consumidor final, mas Pedro Santos preferiu não alimentar esse tema porque pode levar à especulação