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Ataque de 2023

Ataque no Centro Ismaili. Abdul Bashir alega ter atuado em legítima defesa

05 dez, 2024 - 12:00 • Liliana Monteiro , João Malheiro

O depoimento foi feito com recurso a tradução. Quando o tribunal pediu para perguntar ao arguido como tinham ficado as vítimas após o conflito no gabinete, o intérprete não conteve a emoção, começando a chorar.

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Abdul Bashir, acusado de 11 crimes relacionados com o ataque ao Centro Ismaili que vitimou duas mulheres, em março do ano passado, alega ter atuado em legítima defesa.

Ao contrário do que era esperado, o arguido optou mesmo por falar em tribunal, esta quinta-feira, num depoimento feito com recurso a um tradutor. Manifestou essa intenção depois de responder de forma correta às perguntas para a sua identificação.

O acusado diz que foi atacado pelas duas vítimas, que uma delas usou uma arma branca e que, em resposta, apenas se defendeu. "Quando entrei no gabinete estavam lá as duas e a Mariana tinha uma arma branca e esfaqueou-me na barriga e eu defendi-me", explicou dizendo que ficou surpreendido com a situação.

Durante o depoimento, Abdul Bashir admitiu andar sempre com uma faca de grandes dimensões na mochila, alegando que era alvo de várias ameaças de morte, chegando a acusar a familia Aga Kan e alguns funiconários do Centro.

Quando o tribunal pediu ao tradutor para perguntar ao arguido como tinham ficado as vítimas após o conflito no gabinete, o tradutor não conteve a emoção, começando a chorar, tendo de interromper o trabalho. A sessão foi interrompida durante breves momentos, mas prosseguiu, entretanto. No final da audiência em declarações aos jornalistas disse que conhecia as vitimas e chegou a trabalhar com elas.

O acusado, que pertence ao povo Hazara, confessou ter, ainda, esfaqueado o professor de português - de quem também disse ser alvo de ameaças - , alegando sempre legítima defesa.

"Não fugi e esperei pela polícia dentro do gabinete. Achei que eles iam disparar", contou.

Referiu depois ter saído da sala e estar cercado por polícia. Foi atingido uma vez por uma bala de um agente que estava a cerca de três metros e explicou que manteve sempre a faca na mão. Relatou que tentou arrastar-se para se aproximar da polícia, porque queria ser atingido. O tribunal quis saber por que é que o arguido queria ser abatido ela polícia, ao que este respondeu que estava com medo de toda a situação.

Durante o depoimento sublinhou diversas vezes a palavra "medo" e "esquema" para o matar, esclarecendo ao colectivo que como os filhos não eram puros mulçumanos a familia Aga Kan queria matá-lo, alegou também que temia que lhe fossem extraídos orgãos e que tinha sofrido essa ameaça. Já em resposta a questões da sua advogada referiu que nessa altura ouvia vozes internas na cabeça.

Questionado sobre se sabia porque estava internado numa clinica psiquiatrica prisional e fazia medicação, afirmou que só há oito meses teve a percepção de que estava a tratar um porblema mental, a esquizofrenia.

À saída do tribunal, após pausa da sessão para almoço, o advogado Miguel Matias que defende uma das vitimas que sobreviveu, lembrou que a faca com a qual Abdul Bashir diz ter sido atacado, nunca foi encontrada pelas autoridades e que vai pedir no fim deste julgamento uma pena maxima para o arguido.

Abdul Bashir está acusado de dois crimes de homicídio agravado, seis crimes de homicídio agravado na forma tentada, dois crimes de resistência e coação sobre funcionário e um crime de posse de arma proibida. Está internado no hospital prisional de Caxias por razões mentais, mas conseguiu responder corretamente ao pedido de identificação feito pelo tribunal no arranque do julgamento, esta quinta-feira.

As vítimas mortais são duas mulheres, de 24 e 49 anos, que trabalhavam no Centro Ismaili nos serviços de apoio aos refugiados.

A família de Abdul Bashir chegou a Portugal vinda da Grécia, no final de 2021, com os três filhos. Viviam em Odivelas e recebiam apoio e formação no Centro Ismaili, que ajuda a comunidade de refugiados em Portugal.

No dia seguinte à ocorrência do crime, o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, afirmou, num encontro com jornalistas, não existir "um único indício" de que o sucedido tenha sido um ato terrorista, admitindo que o ataque tenha resultado de "um surto psicótico do agressor".

[Notícia atualizada às 12h36 de 5 de dezembro de 2024 para acrescentar detalhes]

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