09 dez, 2024 - 00:01 • Carla Fino
Cerca de 97 por cento dos alunos passam pelo menos uma hora por dia à frente de um ecrã, mas mais de metade - 52% - admite que passa mais de 4 horas sobretudo os alunos mais velhos.
A situação piora ao fim de semana quando uma boa parte, 63,3% admite que passa mais tempo, sobretudo entre os alunos mais velhos que chegam a estar mais de cinco horas a olhar para ecrãs.
Margarida Gaspar de Matos, coordenadora do estudo e também responsável pelo Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar considera que se trata de "um grande desafio", uma vez que o problema assume "proporções assustadoras", o que leva a que se crie uma estratégia que obrigue a mudanças.
Recorde-se que o Ministério da Educação, Ciência e Inovação no início do ano lectivo, deu orientações para as escolas limitarem o uso do telemóvel. Uma recomendação que será avaliada dentro de um ano.
No que diz respeito ao fenómeno do bullying a coordenadora do estudo refere que os números diminuíram face a 2022. Embora, mais de metade dos alunos revele que nunca ou quase nunca foram vítimas - entre 61,8% e 76,6% respetivamente- o certo é que mais de um terço refere que já foi gozado por outros alunos - cerca de 38% - e um quarto foi ameaçado por outros colegas pelo menos algumas vezes por ano.
O estudo do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, promovido pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, abrange alunos que vão desde a educação pré-escolar ao 12º ano, revelou também que 72%dos alunos mais novos, são sensíveis aos sentimentos dos outros, bem como partilham com facilidade. Cerca de 75% gostam de ajudar se alguém está magoado.
Para os educadores e professores destes mais novos, são os rapazes quem mais têm problemas de comportamento. Já as meninas são mais bem comportadas e mais sociáveis. De resto, os dados do estudo do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, conclui que mais de dois terços dos alunos está satisfeita com a vida, um valor que vai diminuindo com a idade, com os rapazes mais satisfeitos com a vida do que as colegas do sexo feminino.
Quanto ao impacto da Covid-19 na vida dos alunos, este parece já ter sido coisa do passado para cerca 41% dos alunos. São os rapazes que sentem que a sua vida em geral se alterou com a pandemia, quer para pior, e que ainda não recuperaram totalmente - 12,7%, mas que já voltou tudo ao normal para 25,1%. No que diz respeito ao género feminino, perto de 42% considera que as suas vidas em geral, alteraram-se pouco com a pandemia.
O inquérito decorreu entre janeiro e junho, tendo sido recolhidos dados de cerca de 6 mil alunos, desde o pré-escolar ao ensino secundário. No que diz respeito aos adultos, participaram no estudo 900 entre docentes, assistentes técnicos e operacionais, encarregados de educação e psicólogos.
Na amostra de professores, apenas cerca de 400 participaram no estudo, o que para a coordenadora do estudo, é uma "baixíssima adesão dos professores", o que não permitiu uma análise mais abrangente, sobretudo na área regional.
Sentimentos como a depressão ou tristeza atinge cerca de metade dos docentes, com 51,1%. Já 45,6% revelou dificuldades em dormir.
Quando falamos de agitação, dois terços admitem esse estado, sendo difícil relaxar para 66% dos professores inquiridos. Números que não diferem muito do estudo de 2022, onde também cerca de metade dos professores revelaram algum tipo de sofrimento a nivel psicológico.
Já 65,8% sente-se alegre e calmo, mas dois terços admitem dificuldades em relaxar - 66,1%.
São dados que - alerta a coordenadora do estudo Margarida Gaspar de Matos - não mostram o verdadeiro universo dos docentes, uma vez que apenas 400 aderiram ao questionário deste ano, comparativamente aos cerca de 1.500 que responderam ao estudo de 2022.
A coordenadora do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar recomenda um olhar mais profundo no que diz respeito à formação do cuidado do ponto de vista psicológico, uma gestão emocional e a valorização de competências destes profissionais. Factores diz, que devem ser introduzidos no início da formação de futuros professores e educadores.
De resto, na apresentação deste estudo aos jornalistas, o ministro da Educação Fernando Alexandre, admite que o bem-estar da comunidade escolar, "depende muito do estado psicológico dos professores e que por isso, a valorização da carreira é muito importante". A intenção do governo é reforçar o período de acompanhamento dos docentes logo no início da carreira.
Outra das apostas do governo é a revisão da profissionalização em serviço. Segundo o secretário de Estado da Administração e Inovação Escolar, Pedro Dantas da Cunha a intenção do governo é alargar a oferta a mais instituições do Ensino Superior, uma vez que nesta altura a Universidade Aberta detém a exclusividade.