19 dez, 2024 - 19:03 • Fátima Casanova e Ricardo Vieira
Duas pessoas foram detidas e 100 artigos contrafeitos apreendidos é o balanço ainda provisório de uma operação policial realizada esta quinta-feira à tarde na zona do Martim Moniz, Lisboa, segundo informaram as autoridades.
Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) da PSP esclarece que operação especial de prevenção criminal na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, resultou na detenção de duas pessoas: uma por posse de arma proibida e droga e outra que era suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.
Na nota, divulgada na quinta-feira à noite, a PSP diz que apreendeu 435 euros em dinheiro, suspeitos de serem provenientes de atividades ilícitas, sete bastões (madeira e ferro), 17 envelopes com fotos tipo passe suspeitas de serem para uso em atividades ilícitas, 3.435 euros em numerário, um passaporte e diversos documentos por suspeita de auxílio à imigração ilegal, ?581,37 gramas de droga que se suspeita ser haxixe, uma arma branca e um telemóvel que constava como furtado.
No comunicado que anunciou a operação, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP disse que o objetivo era "alavancar a segurança e tranquilidade pública da população residente e flutuante" na zona da Praça do Martim Moniz, "área onde frequentemente se registam ocorrências que envolvem armas".
A rua do Benformoso, onde existe uma grande concentração de imigrantes e comércio, foi totalmente vedada ao público. Várias pessoas da rua foram encostadas à parede, em fila, pelas autoridades, com as mãos levantadas.
Esta operação decorreu em coordenação com a Unidade Contra o Crime Especialmente Violento (UECCEV) do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.
O primeiro-ministro foi questionado durante uma conferência de imprensa, no Conselho Europeu, em Bruxelas. Luís Montenegro considera que a operação da PSP no Martim Moniz foi "muito importante" para criar "visibilidade e proximidade" no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses.
"Há uma coisa que me parece óbvia, é muito importante que operações como esta decorram, para que haja visibilidade e proximidade no policiamento e fiscalidade de atividades ilícitas", sublinhou.
O primeiro-ministro considerou que as operações policiais de prevenção "têm um duplo conteúdo", ou seja, aumentar a "tranquilidade dos cidadãos, por um lado", e combater as "condutas criminosas".
O BE, o PCP e o Livre requereram esta quinta-feira a audição da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, no Parlamento para esclarecer a operação policial no Martim Moniz, considerando-a inadequada, desproporcional e passível de criar “alarme social".
Em declarações aos jornalistas no parlamento, o líder parlamentar do BE defendeu que o país “assistiu hoje a imagens aviltantes, revoltantes, indecorosas”, referindo-se às imagens de uma operação policial no Martim Moniz, em que se veem “dezenas de pessoas encostadas à parede por simplesmente serem imigrantes”.
“Isto é inaceitável, não se coaduna com os princípios do Estado de Direito democrático. (…) Tratou-se meramente de um número de propaganda de extrema-direita, promovida pelo Governo e o mais grave é que o Governo não esconde que instrui as forças de segurança para perseguir imigrantes”, disse.
Fabian Figueiredo acusou o Governo de ter “embarcado numa campanha de perseguição aos imigrantes” e de estar a “instrumentalizar as forças de segurança para fazer campanha eleitoral, para disputar apoio eleitoral à extrema-direita”.
“Não assistiremos impávidos e serenos a esta escalada que o Governo está a promover e, por assim ser, daremos entrada daqui a poucos minutos de um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna e o diretor-nacional da PSP”, anunciou.
O líder parlamentar do BE disse que o partido quer saber “se estas operações policiais vão continuar ou finalmente parar” e se a atuação da política se vai “conjugar com os princípios da segurança e da tranquilidade público” ou se o Governo a vai continuar “a usar para andar à caça da perceção”.
Por sua vez, o deputado do PCP António Filipe também anunciou um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, “tendo em conta a forma que revestiu a operação policial” no Martim Moniz.
“Foi anunciado que o objetivo era contribuir para aumentar a segurança dos cidadãos e dar cumprimento a seis mandados judiciais. As imagens que chegaram dessa operação policial suscitam dúvidas quanto à sua adequação e proporcionalidade, sobretudo quando se diz que o objetivo é aumentar a segurança dos cidadãos”, disse.
Para o deputado do PCP, “fica-se com a sensação de que elas poderão também contribuir para criar algum alarme social que pode não se justificar”.
“Requeremos a audição da ministra da Administração Interna para esclarecer a Assembleia da República sobre os reais objetivos daquela operação, a forma como ela decorreu e se considera que decorreu de forma adequada e proporcional tendo em conta os objetivos que visava”, disse.
Já o Livre, pela voz de Rui Tavares, defendeu que "é muito importante que as autoridades policiais e a sua tutela política" esclareçam se estas operações têm "uma real razão de existir do ponto de vista da segurança ou se elas existem apenas para responder mediaticamente à extrema-direita".
"Se for assim temos a autoridade do estado muito mal entregue", criticou.
Para o deputado do Livre, "hoje é um dia em que a agenda do Governo e do PSD foi completamente determinada pela extrema-direita", o que considerou que aconteceu "dentro e fora do parlamento".
"Dentro do parlamento com o acompanhamento do debate sobre perceções em termos de saúde, fora do parlamento com uma operação policial que é suspeite primeiro, detenha primeiro, encoste à parede primeiro e depois veja se a pessoa efetivamente é suspeita de alguma coisa ou cometeu algum crime", criticou.
De acordo com Rui Tavares, estas coisas "acontecem por razões que são estranhas aos direitos das pessoas, à segurança, à administração interna, acontece por razões noticiosas, mediáticas, de marcação de agenda política".
[Notícia atualizada às 09h55 de sexta-feira, com a informação de mais um detido]