21 dez, 2024 - 17:58 • Alexandre Abrantes Neves , com Lusa
Dezenas de pessoas percorrera este sábado a rua do Benformoso no Martim Moniz, Lisboa, recordando os valores de Abril em solidariedade com a população imigrante residente na zona.
A ação cívica foi organizada em reação à operação policial realizada na quinta-feira no Martim Moniz, condenada por vários partidos políticos e organizações de defesa dos direitos humanos.
Distribuindo cravos de diversas cores, pessoas de vários quadrantes da sociedade, entre as quais representantes do PS, BE, PCP e Livre, explicaram o significado destas flores para a democracia portuguesa.
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) marcou presença na iniciativa. Mariana Mortágua acusou o Governo de um ato inaceitável.
“O que aconteceu há uns dias foi um ato inédito, desproporcional, foi direcionado a uma comunidade em específico. Nós estamos aqui para dizer que não é aceitável este tipo de ações policiais por parte do Governo e que em Portugal as pessoas não têm de viver com medo de ações de caráter racista e xenófobo”, defende Mariana Mortágua.
No protesto, marcou também presença Ana Gomes, militante do Partido Socialista (PS), que criticou a "rusga à rambo" que decorreu na quinta-feira. A antiga candidata à presidência da República apontou ainda o dedo a Luís Montenegro.
"Precisamos, nesta rua e noutras, policiamento de proximidade, que se articula com a comunidade, que conheça a comunidade e que obviamente não precisa deste tipo de visibilidade, como disse o Primeiro-Ministro - que é uma visibilidade que só projeta a insegurança para os cidadãos e para a imagem do país", defendeu.
Também do lado do PS, Isabel Moreira pediu que "as pessoas imaginassem o que seria serem postas numa fila, indiscriminadamente, contra a parede, para serem revistadas". A deputada socialista acredita que a operação especial da PSP "não pode ser impulsionada pelo Governo num Estado de Direito" e lamenta que o executivo "não cumpra abril" ao usar o "fantasma da perceção da segurança".
Ja João Ferreira do PCP lamentou "o alarme social totalmente injustificado" provocado pela operação. Na visão do líder do Livre, Rui Tavares, todo o aparato foi pensado ao detalhe pelo governo.
Miguel Costa Matos (PS) e Francisco Sousa Vieira ((...)
"A operação policial foi determianda por 'achismo'. (...) Os resultados não aparecem porque a operação não foi determinada por razões policiais, de investigação criminal ou de segurança. Foi por perceções e por razões de agenda mediática, no dia em que também havia um debate sobre estrangeiros na Assembleia da República", criticou.
Moradores e comerciantes da zona acolheram o gesto com alegria e sublinharam a simpatia e o acolhimento da população portuguesa em geral.
Na zona moram e trabalham muitos imigrantes, sobretudo oriundos do subcontinente asiático.
A operação policial resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.
A atuação policial - que passou por encostar à parede dezenas de pessoas, de mãos no ar, para serem revistadas - foi denunciada por imagens partilhadas nas redes sociais, que geraram várias críticas e acusações de abuso de poder.
[Notícia atualizada às 23h09 com declarações de partidos]