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Estrangeiros no SNS. Centenas de profissionais admitem desobedecer a restrições

23 dez, 2024 - 11:12 • Lusa

Acusando o Governo de promover desigualdades e dificultar o combate a doenças transmissíveis, os subscritores recordam que, em França, uma medida semelhante não avançou devido à oposição de 3.500 médicos.

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Mais de 800 profissionais de saúde recusam cumprir a decisão, que consideram discriminatória, de impor novas limitações a estrangeiros não residentes no acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e admitem praticar atos de desobediência civil.

Numa carta aberta, um "total de 840 profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de diagnóstico e terapêutica e outros profissionais" subscreveram a carta aberta contra a alteração à Lei de Bases da Saúde aprovada no dia 19 de dezembro, referem os promotores, em comunicado.

Para os subscritores, estas alterações condicionam o acesso dos imigrantes em situação irregular, pelo que se comprometem "a continuar a prestar cuidados a todas as pessoas, sem discriminação, considerando que a proteção da saúde da população visada, no âmbito da ética e a deontologia que regem as [suas] profissões, poderá justificar ações de desobediência civil".

Acusando o Governo de promover desigualdades e dificultar o combate a doenças transmissíveis, os subscritores recordam que, em França, uma medida semelhante não avançou devido à oposição de 3.500 médicos.

"Utentes daqui e de outros lados, a nossa porta está aberta para todos. E assim continuará", prometem.

Para os subscritores, a alteração é discriminatória, viola a constituição e tratados internacionais e "agravará desigualdades, sobrecarregará os serviços de urgência e comprometerá a saúde pública, ao dificultar o acesso a cuidados de saúde em segurança e à prevenção e tratamento de doenças transmissíveis".

Em declarações à Lusa, um dos promotores, o médico André Almeida, explica que os profissionais de saúde não podem subscrever uma nova lei que é "discriminatória e atenta contra os princípios de ética e deontologia" ao afastar pessoas do SNS.

A implementação destas regras levará a que "pessoas que trabalham, que são contribuintes líquidos, tanto do ponto de vista tributário como para a segurança social, ficassem sem assistência e o mesmo também se aplica às suas famílias, mesmo inclusivamente para mulheres grávidas e crianças", afirmou o médico da Unidade Local de Saúde de São José.

"Nós achamos isso inaceitável" e "esperamos que esta lei seja revogada nos órgãos de soberania e que não passe no crivo da Presidência da República".

No seu trabalho diário, André Almeida lida com pessoas migrantes que estão no país "há bastante tempo, mas devido aos atrasos processuais da AIMA [Agência para a Integração, Migrações e Asilo] e antigamente do SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] não têm a sua situação regularizada".

Por isso, estes imigrantes já "enfrentam uma série de obstáculos no acesso ao sistema de saúde", mas com "esta alteração à lei, estas pessoas vão ser afastadas de assistência essencial", particularmente nas urgências, explicou o médico.

Segundo um levantamento estatístico, "a população não-residente em Portugal que recorre ao SNS é residual", escrevem os subscritores, recordando que este tipo de medidas noutros países mostra "os impactos negativos a nível de saúde pública, mortalidade e custos económicos".

No caso espanhol, "a exclusão de migrantes não documentados do sistema de saúde, em 2012, resultou num aumento de doenças contagiosas, maior mortalidade e custos elevados devido à sobrecarga nos serviços de urgência", obrigando o Governo a rever a lei em 2018.

Na sexta-feira, foram aprovados projetos de Lei do Chega e do PSD e CDS-PP sobre as condições de acesso de cidadãos estrangeiros não residentes ao SNS.

A proposta de lei do Chega altera a Lei de Bases da Saúde de 2019 para limitar o acesso ao SNS a estrangeiros que não residam em Portugal, só lhes permitindo aceder aos cuidados de saúde públicos em casos de emergência ou mediante pagamento.

Também o projeto de lei apresentado por PSD e CDS-PP visa alterar a Lei de Bases da Saúde para travar a "utilização abusiva" do Serviço Nacional de Saúde por estrangeiros não residentes em Portugal, exigindo documentação extra a estes cidadãos.

Comentários
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  • Fantochada
    24 dez, 2024 Só tretas 20:39
    Eles sabem perfeitamente que exceptuando situações de extrema e evidente urgência (acidentes, fracturas, perdas de consciência) quem chega vai sempre embater primeiro no funcionário da secretaria que lhe vai pedir o número de utente e aí é o que é: quando não houver seguro, ou inscrição no SNS como imigrante legal, não há consulta, não há receita, nem exames auxiliares de diagnóstico, nem sequer chega à sala deles. Estes "recados" para a CS não passam de uma fantochada e de porem-se em bicos de pés para poderem à mesa do café, gabar-se do seu pretenso "humanismo".
  • Consequencias
    23 dez, 2024 Lisboa 16:59
    É tão fácil ser "altruista" e "humanista" quando são os outros a pagar...Porque não atendem os imigrantes gratuitamente enquanto trabalham no privado? E na CUF, na Luz e nos Lusíadas e outros privados se os utentes não tiverem meios para pagarem os serviços também desobedecem às administrações e tratam os utentes? Quem se julgam estes "doutores" para virem declarar que não vão respeitar as leis da República? Se o fizerem, espero que sofram as devidas consequências.
  • Sara
    23 dez, 2024 Lisboa 13:39
    Querem atender estas pessoas apenas para apreender,, que paguem dos bolsos deles
  • Atuar firme
    23 dez, 2024 E desde o primeiro momento 12:59
    Governo deve atuar firme e resolutamente neste caso e não admitir estas "frescuras". Se a moda pega, então não precisamos de governo e cada um vai fazer o que quer. Aí sim, é que o País se torna ingovernável.
  • Se a moda pega
    23 dez, 2024 Portugal 11:53
    Processos disciplinares a quem não cumprir e descontos no ordenado equivalentes aos tratamentos efetuados e não pagos. É inaceitavel que um grupelhozeco desafie normas governamentais, principalmente quando está em causa abusos que são pagos por todos nós. Chefes: mantenham esses individuos sobre estreita vigilância e caiam sobre eles com toda a dureza permitida por Lei, ao primeiro sinal de incumprimento. Se a moda pega, então cada um fazia o que queria, não?

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