24 dez, 2024 - 08:01 • Henrique Cunha
Presidente António Saraiva fala de “dados alarmantes”, depois de em 2023 o número de pedidos de auxílio ter aumentado 73 por cento.
Em declarações à Renascença, o Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, António Saraiva faz um apelo à solidariedade e afirma que, apesar de haver “uma falta de respostas adequadas por parte do Estado”, o problema está sobretudo relacionado com a conjuntura económica, lembrando que "há uma situação geral de dificuldades por força dos efeitos geopolíticos, que estão a causar subida da inflação, dos juros, e tudo isto leva a que algumas famílias que até agora vinham suportando os seus encargos se tenham agora juntado àquelas que historicamente já vinham solicitando essa ajuda”.
"Em relação a 23, tivemos um crescimento de 53% nos pedidos de auxílio e com destaque para um aumento de 62% nos pedidos de bens essenciais. Estes, como lhe dizia, são dados alarmantes após um aumento histórico de 73% nos pedidos em 2023", sublinha António Saraiva.
Por outro lado, a Cruz Vermelha Portuguesa também tem visto aumentar a procura de apoio por parte das comunidades migrantes. António Saraiva afirma mesmo que “essa é a segunda variável do problema” do aumento de pedidos de ajuda. “Às famílias portuguesas vem agora somar-se as dificuldades da população imigrante, que por diferentes razões acabam por cair em situações de abandono, porque algumas são vítimas de máfias, sobretudo dos seus países de origem, e outros que não arranjando trabalho acabam por ficar numa situação muito, muito debilitada. São novas situações a somar aquelas que já se viviam em Portugal”; esclarece.
As Equipas da CVP vão atuar na atividade de emergê(...)
António Saraiva afirma que a CVP quer responder ao aumento de pedidos de ajuda com soluções “humanitárias, sustentáveis e inovadora” e pede por isso o apoio da população. A ideia, de acordo com o responsável “é centrar esforços em iniciativas que, em vez de responder apenas às necessidades urgentes, visem sobretudo a promoção da dignidade, da autonomia e da capacidade de as pessoas reerguerem as suas vidas de forma sustentável”.
Saraiva dá o exemplo do Cartão Dá CVP que permite “às famílias escolher o que realmente precisam”, ou o Programa Mais Feliz que se centra em medidas de longo prazo, com a aposta “na formação profissional e o acesso à educação”. “São dois programas que vão além das respostas imediatas porque envolvem e estimulam a capacidade de recriação das vidas com dignidade e autonomia”, sublinha.
E é neste contexto, que o Presidente da Cruz Vermelha pede o envolvimento da sociedade, porque “a solidariedade e o apoio da comunidade são fundamentais para garantir a continuidade dos programas e iniciativas”. “E por isso é que é importante a ajuda monetária, porque é com ela que nós estabeleceremos programas de formação, de capacitação, enfim, toda uma alteração da ajuda, porque cada vez mais é necessário que as pessoas ganhem autonomia e tenham habilitações, capacitação, competências para este novo mundo do trabalho, para que possam mais facilmente autonomizar-se”, explica.
Cruz Vermelha parceiro na solução de internamentos sociais
Nestas declarações à Renascença, António Saraiva reafirma a disponibilidade da Cruz Vermelha Portuguesa para “ser parceira” na procura das melhores soluções para os casos de abandono hospitalar, os chamados internamentos sociais. “A Cruz Vermelha está a trabalhar, e a desenvolver competências, dando formação às nossas pessoas para esse novo desafio, e estamos a protocolar com a União das Misericórdias, a partilha da oferta para ir ao encontro destas novas realidades e atender a estas camadas populacionais mais desfavorecidas, e por vezes mais abandonadas. É preciso dar resposta humanitária a estas situações, obviamente”, conclui