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Reportagem

Acabou a "greve do lixo" em Lisboa. "Já não se aguenta…"

02 jan, 2025 - 10:15 • João Cunha

Terminou às 6h00 desta quinta-feira a greve dos trabalhadores da higiene urbana da Câmara de Lisboa. Pela cidade, amontoa-se lixo orgânico com sacos com vidro e papel, sobretudo junto a ilhas de contentores subterrâneos. Nos próximos dias, a situação deve regressar à normalidade.

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Algumas das "bocas" dos caixotes subterrâneos instalados na Praça das Novas Nações, em Arroios, quase nem se vêm, tal a quantidade de lixo acumulado.

Sacos com vidro, cartão e lixo orgânico, mais ou menos acondicionado, têm vindo a ser colocados, uns em cima dos outros, ao longo dos últimos dias, deixando entender que o pedido da autarquia, para que apenas o lixo orgânico fosse colocado na rua, não foi respeitado.

"Então, agora íamos guardar em casa sacos e sacos de lixo, com cartão e garrafas de vidro? Era impossível, sobretudo nesta altura do ano, com as prendas de Natal", explica Catarina Pais, que numa mão leva o filho, de seis anos, e na outra a trela da Pintas, uma pura rafeira, como indicou, de sorriso nos lábios.

No cruzamento da Rua Marques da Silva com a Rua António Pedro, uma paralela à Almirante Reis, repete-se o cenário.
Rua António Pedro, Arroios   Foto: João Cunha/RR
Rua António Pedro, Arroios Foto: João Cunha/RR
Rua Carvalho Araújo, freguesia de Arroios  Foto: João Cunha/RR
Rua Carvalho Araújo, freguesia de Arroios Foto: João Cunha/RR

Assim como no cruzamento da Rua Carvalho Araújo com a Morais Soares, uma das ruas mais movimentadas de Lisboa onde, às primeiras horas da manhã, reina um silêncio sepulcral. Uns metros mais à frente, junto ao Mercado de Arroios, outra montanha de lixo, de novo nos contentores subterrâneos, desta vez na Rua Ângela Pinto. De um prédio em frente sai uma moradora, a caminho do trabalho, de saco de lixo na mão.

"Já não se aguenta ter lixo em casa", explica Natércia Pinto, que garante ter mantido dentro de portas a maioria do lixo produzido na última semana.

"Vivo sozinha e por isso não foi assim tão difícil", porque como mora sozinha e no Natal foi à terra, ter com a família. Inadvertidamente, "fugiu" á greve na recolha de lixo. Ou melhor, às três greves: uma greve ao trabalho extraordinário, que decorreu entre 25 e 31 de dezembro, à greve geral de dois dias, nos dias 26 e 27 de dezembro, e á greve ao trabalho normal e suplementar apenas no período noturno, das 22 horas de dia 1 às 6 horas de dia 2 de janeiro.

Noutra zona da Freguesia, na Praça Paiva Couceiro, já em território da freguesia da Penha de França, os contentores subterrâneos também estão á pinha, com cartão e vidro misturados. O importante foi não ter lixo em casa e deixá-lo na rua, fosse onde fosse.

Num café já aberto aquela hora, o proprietário também parecia suspirar de alívio, quando se falava na greve de lixo.

"Termina hoje, não é? Até que enfim. Tem sido impossível", dizia, enquanto voltava á máquina do café para retirar o crivo, deixar fora as borras do último e tirar um outro para um cliente que acaba de entrar.

Noutra zona da cidade, nas Olaias, eram óbvios os resultados da greve. Debaixo de uma varanda bastante iluminada com luzes de Natal, três caixotes de lixo orgânico, não totalmente preenchidos, com muito lixo amontoado em redor. No bairro Portugal Novo, na freguesia do Areeiro, para além da recolha de lixo vão ser necessárias equipas que procedam á limpeza das ruas, de forma que, aos poucos, tudo regresse à normalidade.

"Têm dificuldade em acertar com os caixotes", como indica um morador na zona, cansado da falta de civismo.

"Aqui parece sempre que há greve de recolha de lixo, porque o cenário é quase sempre este", diz, enquanto se apoia de novo na bengala que o ajuda a dar passos curtos, a caminho de uma paragem de autocarro ao lado do qual um vidrão, cheio de vidro, está rodeado de sacos de lixo colocados no chão.

Não muito longe dali, na zona M de Chelas, mais conhecido como bairro do Armador, já na freguesia de Marvila, não há muito lixo acumulado. Um grande camião de recolha de papel serpenteia pelas ruas do bairro, para garantir que os contentores tinham capacidade para suportar mais lixo. E não sendo esse o caso, lá ligava os quatro piscas e o recolhia, para dentro do camião.

"Agora há que separar o papel de outros sacos de lixo que foram sendo colocados neste contentor", lamentava o único elemento da higiene urbana a bordo do camião, que lá seguiu, depois, para outros bairros da cidade.

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