23 set, 2015 - 08:32 • Eunice Lourenço
Na política não há impossíveis e tudo é revogável. Se alguém ainda tivesse dúvidas depois da crise política do Verão de 2013, a noite de campanha da Coligação Portugal à Frente em Setúbal, na terça-feira, mostra como é possível transformar um quase divórcio numa relação solta e que flui.
Ouvir Paulo Portas perguntar a uma plateia mista de PSD e CDS se preferem Maria Luís a Teixeira dos Santos ou Mário Centeno e vê-lo quase luminosos de satisfação com a reacção da sala mostra bem o caminho que foi feito desde 2013, mas que se acentuou no último ano, de aproximação entre esta troika, composta por Passos, Portas e Maria Luís Albuquerque.
Vê-los agora em campanha é como ver um grupo de amigos em que a conversa flui, em que um acrescenta o que o outro não disse e o outro deixa por dizer o que sabe o que outro quer falar. E o clima estende-se aos dois partidos, que tantas vezes ao longo destes 40 anos se olharam com desconfiança, com o CDS a temer o papão do partido grande que podia ‘comer’ o seu eleitorado, os seus militantes e até os seus dirigentes.
Agora, o CDS está a jogar no campeonato dos grandes, está metido numa máquina de campanha que, naturalmente, não domina, mas na qual não se sente desconfortável. Pedro e Paulo perceberam, ao fim de uns anos e quase tarde demais, que se podiam complementar e os respectivos partido parecem também ir percebendo. Ainda que mais devagar que os respectivos líderes.
Do lado do CDS ainda se vai estranhando os meios, as possibilidades, a própria forma de andar na rua. O PSD chega, anuncia-se e passa, o CDS procura cada rosto, cada voto, pois durante anos teve de pescar voto a voto, explorar nichos de eleitorado, mobilizar os militantes que não tinha e os meios que nunca teve.
Do lado do PSD, há como que uma aceitação, nem sempre pacífica, de que, neste baile, são precisos dois para dançar uma valsa vencedora. Claro que, em concelhias e distritais por esse país fora, continua a haver descontentamento por lugares que vão para o CDS e que podiam ir para o PSD, claro que continua a haver rivalidades mal resolvidas, desconfianças e ressentimentos de outros campeonatos. Claro que o resultado de dia 4 vai ditar o futuro desta relação. Mas, por agora, há um poder que os cola com cola suave, daquela usada nos ‘post-it’.