24 set, 2015 - 19:55 • Susana Madureira Martins
Rara é a noite em que António Costa não pisca o olho ao centro-direita e ao eleitorado católico. O líder socialista aproveita os comícios nocturnos para seduzir os que, em 2011, até votaram no PSD e no CDS, mas agora estão descontentes com o Governo.
Nestas eleições, o que está em causa, repete Costa, é se o país está disponível para abdicar de viver de acordo com o modelo social criado na Europa, após a II Guerra Mundial, inspirado num valor fundamental que é a “dignidade da pessoa humana”.
É, aliás, com frequência que o secretário-geral do PS cita o Papa, apenas e só sobre este conceito caro ao universo católico, referindo-se ao discurso no Parlamento Europeu em que Francisco falou da “dignidade da pessoa humana” como base da reconstrução da Europa.
Ainda que, para os católicos, a dignidade da pessoa humana vá muito além da interpretação socialista da expressão, e até tenha implicações contrárias a várias propostas do programa do PS, o líder socialista tenta namorar os eleitorados católico e do centro, repetindo, noite após noite, que não foram apenas os socialistas que ajudaram ao relançamento europeu, mas todo o movimento operário, os democratas-cristãos e os que se inspiraram na doutrina social da Igreja.
Estocada final: Costa diz que todas essas correntes e movimentos contribuíram para o modelo social europeu, que se baseia em ideias simples e que foram consensuais em Portugal até chegar a actual coligação ao governo.
Que ideias são essas? “O direito a aceder à escola, à saúde e à segurança social; garantias fundamentais numa sociedade, como se vivêssemos juntos numa mesma família.”
António Costa sabe bem que é preciso agradar a gregos e troianos e que as eleições se ganham ao centro; nem muito à direita, nem totalmente à esquerda. E, pelo que se tem ouvido, acredita que repetir uma citação cirúrgica do Papa Francisco ajuda.