05 out, 2015 - 02:38 • Cristina Nascimento
A noite foi de vitória da coligação e no PSD há pelo menos mais um militante. Manuel Morgado tem 16 anos e pouco tempo depois de as televisões terem dado conta das projecções a favor da coligação Portugal à Frente já preenchia a inscrição na JSD.
"Eu já tinha pensado em inscrever-me, mas estas projecções animam", admite, sob o olhar orgulhoso do pai. Manuel, jovem de Lisboa, é parco em palavras. Explica que “falaram-lhe na hipótese de aderir à JSD" e resolveu "aceitar o desafio”. “É importante”, mesmo que entre os seus amigos poucos sejam os que ligam à política.
Aqui não se pode dizer que Manuel seja o único jovem. A noite eleitoral da coligação fez-se notar pelo menos em quatro pisos do hotel do centro de Lisboa que serviu de quartel-general das tropas do PSD e do CDS.
Logo na entrada, os turistas têm que se encolher entre os jornalistas apinhados à porta. Lá dentro, o pianista de serviço toca o reportório habitual, mas poucos prestam atenção, divididos entre o futebol no ecrã gigante e o reboliço das máquinas partidárias.
Uma senhora pergunta ao segurança o que se passa. Joyce Doyle, 72 anos, é canadiana. Viaja com mais três senhoras, "já seniores", diz de sorriso rasgado. Chegaram a Lisboa na véspera das eleições, mas estavam a par do escrutínio. “Nós contratámos um motorista para visitarmos a cidade e ele disse que tinha de acabar o serviço antes das 19h00 para poder ir votar”, descreve enquanto bebe um gin tónico.
Perguntamos o que sabe sobre a vida (política) portuguesa. Sabe pouco, mal sabe que Portugal viveu nos últimos anos sob o jugo da troika. Invertem-se os papéis. Questiona-nos como é que as pessoas lidam com as dificuldades.
“A coligação vai ganhar?”, pergunta. Tudo indica que sim, mas faltava saber se conseguiria ter maioria absoluta.
A “maturidade eleitoral” dos portugueses
A noite é feita de compassos de espera: primeiro, para saber das projecções; depois, para saber se a coligação consegue a maioria absoluta; por fim, pelos discursos dos líderes. Mas ninguém parece importar-se. A alegria é indisfarçável, há abraços e sorrisos em cada reencontro, muitos deixam notar o alívio de uma vitória. “Há três ou quatro meses esta vitória era para muitos impensável”, diz Manuel Cardoso, militante do CDS vindo de Bragança.
Cardoso seguiu com atenção os discursos dos líderes, Passos Coelho e Paulo Portas. Não se detém em grandes lamentos pelo facto de a coligação ter ficado aquém da maioria absoluta. Diz não recear tempos de instabilidade política: “Os portugueses demonstraram, com este resultado, uma grande maturidade eleitoral.”
Talvez animadas pela conversa e por agora perceberem o que se passava no hotel, duas horas depois, as turistas canadianas ainda andam pela entrada. “Eles estão muito contentes, há pouco fartavam-se de gritar ‘vitória, vitória'”, descrevem.
No piso de baixo, na sala destinada aos apoiantes e militantes da coligação, há quem já deixe transparecer algum cansaço. Uma senhora de meia-idade, aparentemente sozinha, observa as movimentações, sentada numa cadeira. Admite que, passada a euforia das projecções, os ânimos esfriaram um pouco.
O jovem que vive para isto
É a primeira vez que Ana Rosa Santos vem a uma noite eleitoral destas. Objectivo: apoiar o filho, presidente da Juventude Popular. “Ele já terminou os estudos e tem emprego, mas vive intensamente para isto”, descreve. “Meteu férias e durante um mês não parou uma manhã, uma tarde para defender aquilo em que acredita.”
Ana Rosa não poupa elogios ao filho. “É um jovem de valores, luta pela justiça, pela solidariedade e desde cedo disse que queria seguir uma vida política, em prol da comunidade”, garante quase emocionada.
Júlio Peixoto está no espectro oposto de Ana Rosa. No exterior do hotel, armado com uma bandeira do PSD, faz a festa, mesmo sem notícias de maioria absoluta. “Sou militante do PSD, faço campanhas há 30 anos”, atira. "Diziam que os portugueses já não iam acreditar neste Governo… Afinal, os portugueses não estão a dormir”, diz, enquanto acena a um carro que passa pela entrada do hotel a apitar em forma de festejo.
Talvez por falta dessa maioria e do mau tempo que foi carregando ao longo da noite, a festa terminou quase de seguida aos discursos de Passos Coelho e Portas. O Marquês, ali tão perto, continuou livre e desimpedido, sem sinal de um partido (ou coligação) com razões para celebrar.