04 out, 2015 - 19:31 • Marília Freitas
Pepe está sentado nas escadas, à entrada da Escola Secundária Aurélia de Sousa, no Porto. Espera pelo dono, que, lá dentro, está a votar. Transformou-se no centro das atenções, no corrupio do entra e sai desta assembleia de voto. Uma festinha antes do voto, outra depois, mas Pepe continua quieto, alheio à importância das decisões que aqui se tomam.
A meio da tarde, o movimento é muito. São dezenas as pessoas que chegam para votar, muitas com dificuldade em andar, algumas até de cadeira de rodas. Dizem-nos que há mais afluência do que há quatro anos. E, na verdade, até encontramos quem já não viesse votar há muito tempo. Mas "a revolta é tanta que tinham que vir".
O vai e vem continua. Será por haver futebol, daqui a nada, mesmo aqui ao lado? Há de facto quem tenha vindo votar para depois ver o jogo - em casa. Mas, afirmaram, que não seria o futebol que iria fazer subir a abstenção. É certo que o domingo é, por excelência, o dia de ir à bola, mas era também dia de eleições.
Pepe continua à espera. Tem nome de jogador de futebol, talvez tenha sido por influência do antigo defesa do FC Porto. No entanto, o amigo do dono, que o segura pela coleira, é benfiquista. Dos resultados desta noite, espera uma vitória do Benfica e da direita.
Uma opinião rara, quer nesta assembleia de voto, quer aqui ao lado, junto ao Estádio do Dragão. Os adeptos chegam às centenas, vestidos a rigor, com os cachecóis, t-shirts e bandeiras. Bebe-se uma cerveja, come-se um cachorro e faz-se um compasso de espera, enquanto não chegam os amigos. Quase todos foram votar, dizem-nos. O jogo é só ao fim da tarde, sobrou tempo para ir às urnas.
Mas nem assim o resultado das eleições será porventura mais importante que o do futebol. Elsa vende cachecóis, pede que não lhe interrompamos o trabalho por muito tempo. Quer vender e, por isso, prefere mais gente no Dragão do que nas assembleias de voto. Não quer saber quem vai governar o país: “Eu sou pelos pequenos, só ganham os grandes”.