12 out, 2015 - 23:45 • Paulo Ribeiro Pinto
Álvaro Beleza tornou-se o rosto da contestação interna à liderança de António Costa logo na noite das eleições legislativas, no dia 4 de Outubro, quando pediu um congresso e manifestou estar disponível para entrar na corrida à liderança do PS.
Em declarações à Renascença afirma que “é preciso de todos bom senso e não meter fogo no incêndio”, mas deixa clara a “linha vermelha” que separa o PS do PCP e do Bloco de Esquerda: a “social-democracia” do Partido Socialista.
O ex-dirigente socialista, próximo do antigo líder António José Seguro, acredita que o que separa o PS dos restantes partidos – à esquerda e à direita – está bem definido.
“O Partido Socialista defende um Serviço Nacional de Saúde público e não a privatização do SNS como a direita portuguesa quer. Defende uma escola pública e universal e não a privatização encapotada. E defende uma Segurança Social pública e não a privatização também encapotada através do plafonamento e outras coisas. O que nos une em relação à nossa direita: a Europa, o projecto Europeu, a moeda única e as regras de mercado em que se vive”, afirma Álvaro Beleza.
Em relação aos partidos mais à esquerda do PS, Beleza afirma que é mais fácil um entendimento sobre a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social. Já no que toca à Europa, as distâncias entre PS, PCP e Bloco são vincadas. “O que é difícil em relação à nossa esquerda – e que não se pode esquecer de uma semana para a outra – duas coisas: o Bloco e o PCP não aceitam a Europa em que nós estamos. E são dois partidos que não defendem a economia de mercado e nós somos sociais-democratas e aí há uma linha vermelha”, remata Álvaro Beleza.
Um Governo “casca de banana”
Álvaro Beleza teme que um Governo minoritário do PS com apoio parlamentar do PCP e do Bloco de Esquerda possa ser de curta duração.
“Temo é que eles [PCP e BE] possam estar a dar uma casca de banana para o Partido Socialista que perdeu as eleições, ou – e eu não acredito que seja isto que esteja na cabeça dos dirigentes nem do líder do partido – um PS que queira o poder de qualquer maneira e que eles queiram facilitar essa ida para o poder ficando de fora de um Governo, apenas no Parlamento, para nos poderem tirar o tapete como já aconteceu no passado”, remata Álvaro Beleza.
O ex-dirigente socialista defende que “o PS, perdendo as eleições, só poderia ser governo se esse programa fosse aceite pelos partidos que suportam o Governo e, obviamente, que é uma aventura fazer-se um Governo minoritário com os partidos que o suportam no Parlamento sem se comprometerem a estarem no Governo. Por outro lado, acho que a ética levaria a que quem ganha as eleições governe e o Partido Socialista – que tem, como se costuma dizer, a faca e o queijo na mão – negoceie com quem ganhou as eleições, as medidas do Governo”, remata.
Álvaro Beleza acredita ainda que “os 32% que votaram no PS” não queiram “um governo do Partido Socialista com o PCP e o Bloco de Esquerda, numa primeira solução. Agora, isto não quer dizer que eventualmente isso não possa acontecer. Mas, a tradição em 40 anos de democracia em Portugal é que quem tem ganho as eleições tem sido governo e muitas vezes minoritário”.