16 out, 2015 - 20:50 • Carlos Calaveiras
O secretário-geral do PS acusa a coligação PSD/CDS de ter “deixado cair surpresas desagradáveis em cada reunião" com o PS. Sem revelar pormenores sobre esta revelação, António Costa disse, em entrevista à TVI, que "há um limite para se omitir e esconder a realidade" ao resto do país.
"Temos insistido muito com o Governo da necessidade de dar uma resposta cabal a toda a informação que solicitámos e que a não revelação de toda a informação que solicitámos, infelizmente, é um dos piores sinais da forma como a coligação tem estado a lidar connosco, o que, de facto, mina a confiança", disse Costa.
O líder socialista acrescentou que “as negociações” com a coligação de direita “estão a correr mesmo muito mal”. "A primeira [reunião] foi vazia e a segunda foi inconclusiva”, lembrou.
"O dr. Passos Coelho pôs fim a essas conversas", lembra. "Não tem cultura de diálogo e compromisso" e revela "falta de vontade de mudança efectiva de política".
"A trabalhar para ter programa de Governo para a legislatura"
O secretário-geral do PS afirma que socialistas, bloquistas e comunistas estão "a trabalhar para ter programa de governo para a legislatura".
Nesta entrevista de 50 minutos, António Costa, garante, no entanto, que um eventual futuro governo de esquerda estável vai sempre "cumprir as obrigações que Portugal tem": não vão ser postos em causa os "compromissos europeus".
Ao contrário do que se passa com a coligação PSD/CDS, à esquerda as negociações "estão a correr bem". O PS tem “encontrado soluções para as exigências" de Bloco de Esquerda e PCP, garante Costa.
Mas "o PS não quer ir para o poder a qualquer preço", assegura. “Se o PSD conseguir ter uma solução maioritária no Parlamento, ninguém põe em causa a legitimidade para governar. "
"Só serei primeiro-ministro se houver maioria na Assembleia da República que apoie Governo liderado por mim", acrescenta. "Nunca escondi, em caso de não haver maioria absoluta, a hipótese de haver Governo com BE e PCP.”
Costa insiste que parece ser o PS que está em condições de “formar um Governo estável", mais do que a direita. No entanto, o líder socialista reafirma que o seu partido não chumba um Governo “sem uma solução alternativa” porque o importante é "a estabilidade".
Governo de gestão é má opção
António Costa considera que um "Governo de gestão até Abril" não seria saudável e, por isso, lembra que defendeu a antecipação das legislativas. "Seria péssimo para o país, um desastre. Portanto, não vejo nenhuma boa razão para que se fique perante essa solução".
O secretário-geral socialista falou também sobre os mercados financeiros, depois de vários dias em que se avançaram teorias sobre os efeitos que as movimentações à esquerda teriam junto dos investidores. Segundo Costa, os mercados "estão serenos e tranquilos".
Quanto à vida interna do PS, o líder do partido diz que nada o está a incomodar, considerando legítimas as dúvidas de alguns socialistas em relação às negociações em curso com BE e PCP. "Serão os órgãos do PS a decidir", mas "as preocupações não têm razão de ser".
"Passam a vida a anunciar a morte política, mas estou concentrado em cumprir o meu mandato", disse o líder socialista. "Há diferentes pontos de vista e é isso que dá força ao PS.”
Costa não quis comentar a libertação de José Sócrates, decidida esta sexta-feira, garantindo que não tem falado com o ex-governante. "Não comento decisões judiciais qualquer que seja o seu conteúdo, é uma regra que tenho imposto a mim próprio.”
[Actualizado às 22h43]