22 out, 2015 - 20:21
O deputado socialista João Soares lamentou que o Presidente da República tenha indigitado o líder do PSD como primeiro-ministro, numa decisão que faz o país "perder tempo" porque "inevitavelmente" Passos Coelho vai ser derrubado no Parlamento.
"Penso muito sinceramente que esta decisão do Presidente da República faz o país perder tempo porque inevitavelmente aquele que foi indigitado como futuro primeiro-ministro vai cair nesta Assembleia da República, não tenho sobre isso qualquer espécie de dúvidas", afirmou João Soares aos jornalistas no Parlamento esta quinta-feira.
De acordo com João Soares, "vai ser preciso chamar alguém que esteja em condições de assegurar um Governo estável e duradouro em termos de apoio parlamentar, e isso só pode ser feito pelo PS, pelo BE e pelo PCP".
João Soares recusou ainda que haja divisões no seio dos socialistas sobre o acordo que tem vindo a ser negociado com BE e PCP para uma alternativa a um governo PSD/CDS-PP, partidos que, no quadro da coligação Portugal à Frente, venceram as eleições legislativas de 4 de outubro, sem maioria absoluta no parlamento.
"O grupo parlamentar do PS e o PS estão unidos no apoio a uma solução histórica no nosso país, que, pela primeira vez, pode acabar com aquilo que era um conceito abstruso do ponto de vista democrático, o conceito do arco governativo", disse.
Questionado sobre a possibilidade de haver deputados socialistas que votem contra no Parlamento decisões necessárias à formação de um eventual governo PS apoiado por BE e PCP, como moções de rejeição a um executivo PSD/CDS-PP, João Soares respondeu: "Não me parece possível e acabei de estar mais de uma hora numa reunião do grupo parlamentar do PS".
Cavaco "em contradição"
O socialista começou por lamentar a decisão do Chefe de Estado porque "faz o país perder tempo quando precisava de uma decisão rápida em matéria de nomeação de um Governo", estranhando igualmente que Cavaco Silva tenha indigitado um primeiro-ministro que não assegura "uma solução estável e duradoura em termos de maioria parlamentar", o que "está em contradição" com aquilo que o próprio Presidente tem vindo a afirmar.
"A única solução estável e duradoura, como os portugueses já compreenderam ao longo deste processo complicado de negociações entre as lideranças partidárias, é aquela que resultará do entendimento entre o PS, o BE e o PCP", declarou.
"António Costa disse, como aliás têm dito quer a líder coordenadora do BE, quer o líder do PCP, que não há condições para um governo de direita. Por isso é que é particularmente estranho e de lamentar que o senhor Presidente da República tenha indigitado alguém que sabe que não tem condições para assegurar um governo estável e duradouro", insistiu.
O Presidente da República, Cavaco Silva, anunciou esta quinta-feira, numa comunicação ao país, que indigitou o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, para o cargo de primeiro-ministro.
"Lamento profundamente que, num tempo em que importa consolidar a trajectória de crescimento e criação de emprego e em que o diálogo e o compromisso são mais necessários do que nunca que interesses conjunturais se tenham sobreposto à salvaguarda do superior interesse nacional", afirmou o Chefe de Estado.