23 out, 2015 - 16:21
O antigo líder do PS Eduardo Ferro Rodrigues, eleito presidente da Assembleia da República esta sexta-feira, chega a segunda figura do Estado português aos 65 anos, depois de ter ocupado vários cargos públicos.
Eleito deputado à Assembleia da República pela primeira vez em 1985, ministro nos Governos socialistas liderados por António Guterres entre 1995 e 2001 e secretário-geral do PS entre 2002 e 2004, Ferro Rodrigues foi entre Junho de 2011 e Setembro de 2014 vice-presidente da Assembleia da República.
Com a eleição de António Costa como líder socialista, em Novembro do ano passado - candidatura que apoiou contra a do ex-secretário-geral António José Seguro -, Ferro Rodrigues passou a presidir à bancada socialista, cargo que deverá neste início da actual legislatura ser ocupado pelo ex-presidente do Governo Regional dos Açores Carlos César.
Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues nasceu em 1949 em Lisboa, é licenciado em Economia e Finanças. Adepto ferrenho do Sporting e ligado inicialmente do ponto de vista político à ala "sampaísta" do PS, colaborou de perto com o anterior Presidente da República, Jorge Sampaio, quando este desempenhou as funções de secretário-geral do partido. Em 1989, pela direcção socialista, negociou directamente com o líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal, o acordo de coligação PS/PCP para a Câmara de Lisboa - aliança autárquica que perdurou até 2001.
Líder do PS
Na sequência da demissão de António Guterres dos cargos de primeiro-ministro e de secretário-geral do PS em Dezembro de 2001 Ferro foi eleito praticamente sem oposição interna para a liderança dos socialistas.
Sob a sua liderança, o PS venceu as eleições europeias de Junho de 2004 com cerca de 43% dos votos.
Um mês depois, no entanto, acabou por se demitir da liderança do PS, na sequência de uma decisão de Jorge Sampaio, quando este convidou o PSD - então liderado por Pedro Santana Lopes - a formar Governo, sem eleições, na sequência da saída de Durão Barroso do cargo de primeiro-ministro para ocupar a presidência da Comissão Europeia. Na altura, Ferro Rodrigues defendia que Jorge Sampaio deveria dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas antecipadas e encarou a decisão do seu camarada do partido foi "uma derrota pessoal e política".
O caso Casa Pia
Durante a sua liderança no PS, “rebentou” o escândalo Casa Pia, que levou à detenção e prisão preventiva por vários meses do então porta-voz socialista, Paulo Pedroso, que acabou por ser ilibado de todas as acusações.
O próprio Ferro Rodrigues viu o seu nome ser falado neste caso por duas das alegadas vítimas, que processou por difamação e calúnia, tendo deposto no julgamento como testemunha. Quando Paulo Pedroso se viu envolvido no escândalo, defendeu que o processo Casa Pia não passava de "um assassinato político" e advogou uma "teoria da cabala" contra os dirigentes socialistas.
Depois de deixar a liderança do PS, assumiu em 2005 funções de representante permanente de Portugal junto da OCDE, em Paris, cargo que deixou em Abril de 2011, para integrar a lista de deputados do PS.
Introduziu o Rendimento Mínimo Garantido
No primeiro governo de António Guterres, entre 1995 e 1999, Ferro esteve à frente do ministério da Solidariedade e Segurança Social, onde foi responsável pela introdução do Rendimento Mínimo Garantido e pela reorganização da segurança social.
Em acumulação com a segurança social, assumiu também a pasta da Qualificação e Emprego, tornando-se ministro do Trabalho e Solidariedade em 1997.
Depois da tragédia de Entre-os-Rios, em 2001, que levou Jorge Coelho a demitir-se, Ferro Rodrigues foi empossado como ministro do Equipamento Social.
Casado e com dois filhos, Ferro Rodrigues foi membro co-fundador do Movimento da Esquerda Socialista (MES) e inscreveu-se no PS em 1986, depois de seis anos a integrar o movimento "Nova Esquerda", que apoiava criticamente os socialistas.
Envolvidos em lutas estudantis
Antes do 25 de Abril esteve envolvido nas lutas estudantis, que o levaram a ser preso pela PIDE no 1.º de Maio de 1973 e passar 12 dias no forte de Caxias. A sua consciência política surgiu muito cedo, fruto de uma tradição liberal dentro da família.
Um dos acontecimentos mais marcantes para lhe despertar o espírito de contestação ao regime do Estado Novo foi ter assistido à carga policial da GNR sobre os apoiantes de Humberto Delgado que se juntavam no liceu Camões para assistir a um comício do "general sem medo", tinha Ferro Rodrigues apenas oito anos.