30 out, 2015 - 18:47 • João Carlos Malta
António Pires de Lima ainda não sabe o que vai fazer, agora que é ex-ministro da Economia. Diz que vai dar a ele mesmo três meses para “respirar fundo”, viajar. Depois, decidir o que fará. As empresas deverão ser de novo a casa do homem que já liderou a Unicer e que chegou ao Governo para dar um cariz mais político à pasta da Economia.
No Verão de 2013, saía o independente Álvaro Santos Pereira e Pires de Lima chegava à Horta Seca (sede do Ministério da Economia) com a missão de dar mais solidez à ligação entre CDS e PSD. Pode não ter sido só mérito seu, mas a partir dessa data a tensão entre os dois parceiros arrefeceu.
Em entrevista à Renascença, no final da tomada de posse do novo Governo, faz o balanço de dois anos de governação e as diferenças entre ser CEO e ministro. “Não se pode despedir”.
Qual o balanço que faz de dois anos como ministro da Economia?
Do ponto de vista pessoal foi muito gratificante e uma enorme honra servir Portugal numa altura tão exigente. Não me arrependo da decisão que tomei quando fui convidado em Julho de 2013. O país estava ainda em recessão e em assistência financeira e com um forte risco de não terminar o programa. A coesão na coligação não era a melhor. Estávamos a viver um tempo de crise política e, ao longo destes dois anos e meio, terminámos o programa de assistência financeira com uma saída limpa. Iniciámos uma trajectória de crescimento económico, redução do desemprego e vi ainda o CDS ser um parceiro até ao fim.
Não posso estar mais satisfeito com tudo o que se fez e com o estado da economia portuguesa que não é para euforias, mas que vive um momento de esperança. O que se vai passar a partir de agora foge ao meu controlo e à minha responsabilidade, só espero que não se venha a desperdiçar este momento de esperança.
E em relação ao futuro, é um ponto final no que diz respeito a cargos governativos?
Não é um ponto final. Estou há 30 anos com uma vida profissional muito intensa, há 16 ou 17 anos em actividade política não executiva e nos últimos tempos muito executiva. Não quis que a política tomasse conta da minha vida, desempenhei a minha missão o melhor que pude. Agora, vou dar-me ao luxo, que nunca tive na vida, de estar três ou quatro meses sem saber o que vou fazer a seguir. Para já, vou respirar fundo e, lá para Março ou Abril, voltar a funções executivas na economia, não na política. Pode-se servir tão bem o país na economia como na política.
O que é que conseguiu transpor da experiência que tinha como líder de uma grande empresa para o Governo? Que diferenças há entre uma realidade e outra?
Nunca tive ilusões, sempre achei que são funções muito diferentes. Quando se é governante de um país temos de pensar em todos, não podemos excluir ninguém. Numa empresa pensamos nos accionistas, esse é o principal valor, nos trabalhadores e consumidores. São funções diferentes. Na política as responsabilidades são outras. Como ministro da Economia não podemos excluir, nem despedir. Quem cria riqueza não são os ministros, são as empresas, os gestores e os trabalhadores. Nesse sentido, e sem querer ser pretensioso, a minha entrada para o Governo representou um discurso novo, mais realista e humilde por parte dos políticos que estão na economia em relação à sua função.
Disse que a coligação quando entrou no Governo passava um período difícil. Foi um mediador entre Passos e Portas?
Nunca fui mediador entre os dois, o que quis foi integrar-me bem.
Mas desde que entrou não houve mais cisões....
Isso é verdade. Mas não ligo isso à minha entrada. Dou esse mérito ao primeiro-ministro, o de recompor organicamente o Governo e dar ao dr. Paulo Portas o papel no governo de número dois, que era condizente com as responsabilidades do CDS no Governo.
Por fim, o que lhe pareceu o discurso de Cavaco Silva no seguimento que tinha feito na altura da indigitação de Passos Coelho?
Acho que o Presidente da República, ao contrário do que a esquerda quer fazer parecer, está em grande forma. Muito claro, muito assertivo e muito realista. Aquilo que Portugal dispensaria é um Presidente que estivesse consciente da exigência do tempo presente e do que é exigível para quem quer ser Governo. Faz muito bem em colocar a tónica da solução governativa nos pontos fundamentais que são a integração europeia, os nossos compromissos orçamentais, o crescimento e o emprego.
Mesmo que isso exclua dois partidos?
Não se trata de excluir, mas de assumir as responsabilidades.